MOMENTO ACORI: A corrida na ponta da agulha

No esporte, encontramos duas classes básicas de atletas: os profissionais e os amadores. Independente da modalidade, ambos têm o mesmo objetivo, superar limites, seja este um recorde pessoal ou mundial, não importa, para esses atletas, cada milésimo equivale a um recorde.

Para tal superação, todo esforço vale à pena. Treinos intensos e constantes, embaixo de sol forte ou de chuva e frio, não interessa, a meta da superação tem que ser cumprida e os obstáculos estão aí para serem superados.

Mas, toda essa exposição aos treinos intensos, muitas vezes associados a condições climáticas nada favoráveis, tem um preço: o desgaste físico e emocional. O que poucos sabem é que os atletas convivem com diversos tipos de lesões musculares e/ou articulares, que resultam em um sintoma comum: dor.

Lesões músculo-articulares e dor levam ao declínio do rendimento esportivo e, em muitos casos, abrevia a vida útil de um atleta, seja ele profissional ou amador.

É aí que entra o aspecto preventivo da equipe de suporte. Ações que devem ser tomadas com o intuito de evitar as lesões, manter o nível de rendimento e condicionamento do atleta e, consequentemente, preservar sua vida profissional, uma das muitas medidas encontradas nesse rol de ações está a acupuntura.

A acupuntura é uma das maiores representantes da medicina tradicional chinesa no mundo ocidental.

A medicina tradicional chinesa possui uma visão diferente em relação à medicina ocidental, principalmente no mecanismo de desenvolvimento das doenças. Ela se baseia nos princípios da interação do Yin e do Yang, energias opostas que estão em constante interação, mantendo-se em equilíbrio, e que regem toda forma de vida no planeta. O desequilíbrio entre essas forças antagônicas pode ser a principal causa de aparecimento das doenças. Essa desarmonia pode ser provocada por fatores intrínsecos, ou seja, internos, como transtorno emocional, excesso de trabalho, má alimentação, baixo condicionamento físico e abuso de álcool ou drogas, e/ou fatores extrínsecos, externos, que envolvem as condições climáticas e o ambiente de forma geral. Fatores como infecções bacterianas, doenças provocadas por picadas de insetos, animais e vermes estão incluídos como fatores externos, segundo a visão da medicina tradicional chinesa.

Nesse montante de fatores, não é preciso dizer que, para os atletas, a principal fonte de desequilíbrio energético, que leva a uma série de lesões, é o excesso de trabalho, ou de treino, e que muitas vezes está associado a fatores como a ansiedade e o estresse emocional gerado pela pressão de uma prova importante e fatores externos como o clima.

Falando de forma um pouco mais específica sobre a acupuntura, essa consiste em um procedimento no qual agulhas finas são inseridas em diversos pontos específicos do corpo, justamente buscando restaurar ou manter o equilíbrio energético falado acima e, consequentemente, restaurar ou manter o bom funcionamento do organismo.

Até pouco tempo atrás, a acupuntura foi vista com olhares desconfiados, pois a falta de pesquisa e comprovações científicas, exigidas atualmente no que diz respeito à saúde, causavam nas pessoas um ar de misticismo e muitas vezes chegou a ser vista como placebo. Mas, atualmente, a própria Organização Mundial da Saúde já reconhece mais de 300 (trezentos) distúrbios de saúde em que cabe a indicação de tratamento através da acupuntura, comprovadas cientificamente por diversas instituições de pesquisas.

No que diz respeito ao atleta, a acupuntura já vem sendo utilizada para tratamento da dor há muito tempo. Estudos recentes demonstraram que a inserção de agulhas em pontos específicos do corpo fazem com que o sistema nervoso libere, de forma natural, substâncias da classe das endorfinas e encefalinas, com forte poder analgésico; e hormônios da classe dos corticoides, com propriedades anti-inflamatórias, ajudando na rápida recuperação do corpo, o que para os atletas é essencial, uma vez que esses não podem ficar de fora de provas importantes.

E não é somente na prevenção e recuperação de atletas que a acupuntura tem sido utilizada. Diversos autores, baseados na teoria de que vários pontos de acupuntura têm a função de melhorar a circulação sanguínea e, consequentemente, melhorar o aporte de oxigênio e de nutrientes nos músculos, estudaram e observaram melhora na performance física de atletas de diversas modalidades, por exemplo:

La Fuye, em 1972, observou que os músculos dos atletas podem ser tonificados ou relaxados dependendo da atividade a ser exercida pelo atleta, e a influência positiva que esse efeito pode ter no rendimento físico.

Em 1988, Reaves, observou melhora na resistência muscular em atletas corredores e velocistas.

Em outro estudo, Akimoto, em 2003, constatou diminuição do cansaço em atletas jogadores de futebol feminino através da diminuição de hormônios marcadores de fadiga mensurados na saliva das atletas. Nesse mesmo estudo, o autor constatou melhora no bem estar físico e mental das mesmas.

Esses são alguns dos diversos estudos que poderiam ser citados neste artigo, porém fiz questão apenas de demonstrar três datas bastante distante uma da outra para que o leitor possa observar que há muito tempo os efeitos da acupuntura são estudados na performance física.

Apenas para finalizar, Furtado, em 2015, escreveu um artigo que foi utilizado como trabalho de conclusão de curso de pós-graduação, fazendo um levantamento de vários estudos relacionando a acupuntura e o rendimento físico. Ele citou 17 (dezessete) autores que encontraram, no mínimo, evidências positivas sobre os efeitos da acupuntura na prevenção, recuperação e melhora da capacidade física de atletas de várias modalidades esportivas, inclusive a corrida.

Avatar

Flavio Martelozo

Flávio Rosa Martelozo, fisioterapeuta formado pela PUC-PR (2000), especialista em Fisiologia do Exercício pelo Instituto Brasileiro de Pós Graduação e Extensão (2002), Curso de Extensão Universitária Em Fisioterapia Traumatológica e Ortopédica pela Faculdade Evangélica do Paraná (2004), Especialista em Acupuntura pelo Instituto Brasileiro de Terapias em Ensino (2012). Atualmente, trabalha como profissional autônomo em consultório próprio, e em parceria com empresas de Florioanópolis em Cursos, Assessorias e Perícias em Fisioterapia. Ele escreve o Momento Acori, coluna com dicas da Associação dos Corredores de Itapoá.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Deixe seu comentário via Facebook