“Menos para a Educação? Eu digo não!”, por Thiago Gusso

Nestes tempos de muitos conflitos políticos e ideológicos, e de pouca compreensão entre as pessoas, eu tinha me afastado quase que completamente de assuntos que pudessem causar polêmica, mas sinceramente, estava me sentindo muito mal, pois não vinha expondo mais minha opinião acerca de fatos muito sérios e que atingem ou vão atingir cada um de nós. Vinha obtendo relativo êxito nessa tentativa de não polemizar até que um fato me tirou o foco e acabei tendo que me expor com algumas pessoas, a maioria delas bastante compreensivas, que se não concordam comigo, conseguem respeitar a minha opinião e eu a delas. Do outro lado, pessoas cegas por um ódio político que não tem a menor possibilidade de render coisas boas. Esse fato que me trouxe novamente aos diálogos mais polemizados são os cortes de investimentos na Educação Superior.

Nunca escondi de ninguém o quanto defendo e considero o tema Educação vital para o desenvolvimento do País. Não só milito em defesa dessa causa, como trabalho, também, em uma universidade pública. Dessa forma, concordar com o que está havendo seria desacreditar no trabalho que também é meu e abrir mão de tudo o que sempre acreditei em relação ao futuro do País.

Apesar de se utilizar de vários argumentos para defender sua postura autoritária e antidemocrática – levando em conta que não dialogou com os interessados e as ações concretas vão na contramão do discurso – o Governo Federal se mostra extremamente revanchista em relação a uma classe que ele acredita estar contra ele e não a favor da Educação Pública de qualidade. O que ele talvez não saiba é que, apesar de toda a resistência, muitos dos meus colegas e demais membros da comunidade acadêmica confiaram seus votos neste grupo político que assumiu o País, isso por muitos motivos, incluindo o fato de que em governos anteriores também existiram cortes parecidos. Mas então o que mudou? Você, leitor, deve lembrar que em 2016 foi aprovada uma emenda à constituição que ficou conhecida como PEC do Teto dos Gastos (falei do assunto aqui em minha coluna). Em resumo, essa proposta de emenda constitucional congelou os investimentos nas áreas que incidem mais diretamente na população de menor poder aquisitivo, sendo as principais delas, a Educação e a Saúde. De lá para cá, portanto, inexistiu ou foi ínfimo o reajuste do investimento nessas áreas. Nesse contexto, os cortes de 30% como anunciado, inviabilizariam a continuidade das atividades da maioria das universidades federais, tendo em vista que já vinham atuando com considerável precarização, com investimentos que, além de sofrerem consecutivos cortes, em nenhum momento tiveram, sequer, reposição inflacionária.

Mas, sinceramente, de tudo isso, o que me deixa mais frustrado, é perceber nas redes sociais que muitas pessoas que sempre defenderam a Educação Pública, agora estão contra ela simplesmente por acreditarem cegamente no Governo, quando o papel do povo deveria ser fiscalizar e não dizer “amém” a tudo. É o mesmo público que não consegue distinguir fake news disfarçadas de denúncias. As fotos de pessoas peladas fazendo o que chamam de “balbúrdias”, são em sua maioria imagens de estrangeiros fotografados em seus países de “primeiro mundo”, e muitas vezes, bastante antigas e desconexas do tema Educação, mas se eu alerto isso nas redes sociais, sou detonado, chamado de ‘comunista”, “petralha”, “vagabundo”, tudo porque eu aponto para inverdades em relação a um tema que conheço: trabalho há quase dez anos na área e nunca vi – mas nem de longe – isso que chamam de balbúrdia nas universidades. Muito pelo contrário, a “balbúrdia” que tenho acompanhado dia após dia, é o quanto uma universidade pública contribui para o desenvolvimento do País, seja na universalização do Ensino, seja no desenvolvimento científico. Nenhum país do mundo se destacou em qualquer área sem um amplo investimento em Educação. Não seria diferente no Brasil, mas infelizmente, aqui, a idolatria a políticos, sejam eles de esquerda ou de direita, tem falado mais alto do que o bem comum.

O futuro é quem nos cobrará – de todos, independente do posicionamento neste momento – tamanha omissão coletiva em relação a nossos direitos mais básicos.

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Thiagão

Jornalista pela PUC/PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) com pós-graduação em Marketing Empresarial pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), Thiago Gusso já trabalhou em importantes projetos de comunicação de Curitiba (PR) e Itapoá. Atualmente, responde pela Direção do site Tribuna de Itapoá e do jornal impresso Itapoá Notícias, nos quais segue também em sua atuação como jornalista. E-mail: thiago@itapoanoticias.com

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