“Teorias da conspiração”, por Thiago Gusso

“A China criou a Covid-19 em laboratório e depois espalhou a doença pelo mundo.” “Os esforços mundiais em busca de uma vacina são, na verdade, a tentativa de implantar chips nas pessoas para que a população global seja monitorada.” “Há um plano chamado Nova Ordem Mundial, cujo propósito é impor um governo único em nível mundial, com objetivos maléficos para a grande população.” Parecem afirmações absurdas para você? Para mim, também, mas acredite: tem gente – e não é pouca – que acredita cegamente nesses fatos que estão entre as principais teorias da conspiração difundidas atualmente.

Esse tipo de afirmação – que para estudiosos do assunto e grande parte da população mundial não faz o menor sentido – é mais popular em épocas como a atual, em que as pessoas se sentem vulneráveis diante de uma ameaça da qual pouco se conhece, no caso a Covid-19. Em meio ao incômodo cenário de incertezas, as respostas rápidas que teorias da conspiração dão às inquietações mundanas fazem com que tais informações se espalhem com facilidade e se tornem verídicas no imaginário de muitas pessoas. E isso não é algo novo, inclusive a lógica desse tipo de desinformação já era seguida à risca nas mais sórdidas estratégias políticas, como fica claro na famosa frase do ministro da Propaganda na Alemanha Nazista (1933-1945): “uma mentira contada mil vezes, torna-se uma verdade”. Considero muito óbvio que essa afirmação, no seu sentido literal, é falsa. Porém, a lógica está no entendimento de que uma mentira contada repetidas vezes se torna verdade no subconsciente de muitas pessoas, especialmente se essa mentira é conveniente para ela, condiz com suas crenças, reforça sua visão de mundo.

Os impactos dessas teorias da conspiração na sociedade são inúmeros. Algumas delas são extremamente prejudiciais, outras nem tanto, mas todas tem algo em comum: minam a confiança do público em instituições e especialistas. Os exemplos práticos do prejuízo que isso causa é perceber, principalmente no início da pandemia pelo novo coronavírus, a quantidade de pessoas que, simplesmente, ignorou a gravidade do problema, não levando a sério os conselhos de autoridades do assunto em relação à importância do distanciamento social e do uso de máscaras.

Pesquisadores da Escola de Psicologia Experimental da Universidade de Bristol e do Centro para a Comunicação das Mudanças Climáticas da mesma Universidade, que estudam os fenômenos da desinformação, relacionaram explicações relevantes sobre o tema em um manual voltado à comunidade não científica. Esse material foi traduzido ao Português por Dayane Machado e Minéya Fantim, ambas pesquisadoras do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp. O estudo cita sete características comuns aos teóricos da conspiração: eles podem acreditar em elementos mutualmente contraditórios (em que uma narrativa anula a outra); eles têm suspeita absoluta (não aceitam versões oficiais e se fecham para o diálogo); eles sempre passam a imagem de que algo está errado (abandonam uma teoria quando não há mais como sustenta-la diante das provas contrárias, mas rapidamente adotam outra com a mesma finalidade da primeira); têm intenções nefastas (por trás do suposto golpe citado na trama conspiracionista está algum inimigo e a conspiração nunca envolve intenções positivas); os teoristas são vítimas sendo perseguidas (acreditam estar com razão e não desistem de confrontar quem consideram seus algozes); estão imunes a evidências (aquele que ousar confrontar a versão conspiratória logo passa a ser considerado parte dela); reinterpretação da aleatoriedade (pequenos eventos aleatórios da história são utilizados para reforçar os argumentos).

Parece meio óbvio, mas talvez seja interessante reforçar que desinformação se combate com informação. Esse é o caminho para sair deste abismo conspiracionista em que (como sociedade) nos enfiamos. Para isso, é preciso urgentemente ampliar o acesso das pessoas ao conhecimento, sobretudo, para que se construa um pensamento crítico capaz de dificultar a disseminação de tais absurdos. Mas até que se atinja esse nível desejável de esclarecimento, a indicação de ação por parte dos estudiosos do tema passa por uma ação bem simples de entender, mas nem sempre fácil de incorporar às nossas práticas: ter empatia.

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Thiagão

Jornalista pela PUC/PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) com pós-graduação em Marketing Empresarial pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), Thiago Gusso já trabalhou em importantes projetos de comunicação de Curitiba (PR) e Itapoá. Atualmente, responde pela Direção do site Tribuna de Itapoá e do jornal impresso Itapoá Notícias, nos quais segue também em sua atuação como jornalista. E-mail: thiago@itapoanoticias.com

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