É de Itapoá o único recenseador cadeirante em Santa Catarina

Morador de Itapoá, Nivaldo Alves Ribeiro, de 65 anos de idade, é o único recenseador do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) cadeirante em Santa Catarina. Essa é a segunda vez que ele atua na função, mas a primeira na condição de pessoa com deficiência, qual vem desde 2007, quando foi vítima de um grave acidente e perdeu o movimento das pernas.

Apesar de todas as dificuldades que a condição física e a falta de acessibilidade lhe impõem, a maior preocupação de Seu Nivaldo é ser útil. “O único medo que eu tenho é o de não ser útil. Se eu ganhar alguma coisa monetariamente, é consequência do meu trabalho, mas eu primeiro preciso fazê-lo, mostrar que eu sou competente, que tenho condições, mesmo com as minhas dificuldades”, explica Nivaldo ao Itapoá Notícias.

O recenseador conta que independente de sua condição como cadeirante, consegue fazer tudo e qualquer coisa, desde que conte com alguns locais previamente preparados e equipamentos adequados.

E falando em equipamentos, até nisso, a história de Seu Nivaldo surpreende. Considerando que Itapoá, via de regra, não conta com boa acessibilidade às pessoas com deficiência, o próprio recenseador fabricou uma cadeira elétrica. “Comprei peça, comprei motor separado. Fui no ferro velho, comprei o quadro de uma bicicleta. Cortei, soldei e fiz – como diz a minha esposa – um Frankenstein, mas a cadeira ficou tão boa que, hoje, carinhosamente a chamo de Judite. É a minha companheira de trabalho”, conta Nivaldo Ribeiro.

Aposentado, ele poderia estar em casa tranquilo, mas isso não combinaria com Nivaldo, que após já ter graduação e especialização, hoje cursa Jornalismo. Ele se inscreveu para o processo seletivo de recenseador, foi classificado e chamado para fazer o curso necessário à atuação no processo de recenseamento. Só quando ele chegou para o curso, que se deram conta de que se tratava de um cadeirante. “Da parte deles, ficaram meio temerosos, meio sem saber se eu ia dar conta, mas a coisa foi andando. De repente, quando eles viram que eu já tinha terminado meu primeiro setor antes de outros colegas que são andantes, foi confiança total”, garante Nivaldo.

O único recenseador cadeirante de Santa Catarina encara sua atuação como um serviço que presta a seu país. Nivaldo cita a importância desse trabalho, considerando que é com base no levantamento feito pelo IBGE que os governos podem implementar políticas públicas. Tal levantamento não ocorria desde 2010. Era para ter sido atualizado em 2020, mas o recenseamento naquele ano foi suspenso em função da pandemia pela covid-19. “Estamos trabalhando com dois anos de atraso e temos que terminar até o dia 31 de outubro. Trabalhamos sábado, domingo, às vezes à noite, para encontrar aquelas pessoas que não estão em casa durante o dia. O tempo estando bom e eu conseguindo sair com minha cadeira, eu saio”, detalha Nivaldo, reforçando que só pausa o trabalho quando há uma chuva muito intensa.

Questionado sobre as condições das ruas de Itapoá para realizar o trabalho de recenseamento com sua cadeira elétrica, Nivaldo não esconde a dificuldade, mas garante que é possível ao cadeirante trabalhar nessa e em tantas outras funções. “Às vezes, é preciso de um pouco de empenho. É preciso, também, que a municipalidade dê condições para que você tenha os locais acessíveis. O resto, a gente vai tirando do dia a dia, vai enfrentando e superando as dificuldades, chegando no bom termo, como eu tenho conseguido”, garante ele, agradecendo a Deus por isso.

Ao fim da conversa com o Itapoá Notícias, Nivaldo deixa uma importante reflexão sobre o seu trabalho e sua condição de cadeirante. “Embora, eu seja uma pessoa com deficiência, procuro não usar disso como um impeditivo para deixar de fazer as coisas. Eu gosto de desafios. Quando alguém diz que é muito difícil, eu digo ‘dá para mim, que eu faço’. No meu tempo, nas minhas condições, mas eu sei que sempre consigo. Por isso, atuo em várias áreas”, explica o comunicador (que tem uma web rádio), que atua em projetos da comunidade e faz faculdade, além do trabalho como recenseador do IBGE, entre outras atividades. “Para mim, superação é isso. É poder fazer as coisas e mostrar para a sociedade que é possível, desde que a sociedade também coopere, principalmente, na questão da acessibilidade”, resume. A expectativa de Nivaldo e de tantos outros brasileiros com alguma deficiência física é de que esse censo traga os números necessários para a aplicação das diversas políticas públicas que podem afetá-los diretamente. “Que os governos, então, possam trabalhar e tenham sensibilidade de melhorar, principalmente, a questão de acessibilidade e de oportunidade para as pessoas com deficiência”, conclui Nivaldo Ribeiro, único cadeirante recenseador de Santa Catarina.

Do Itapoá Notícias.

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Thiagão

Jornalista pela PUC/PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) com pós-graduação em Marketing Empresarial pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), Thiago Gusso já trabalhou em importantes projetos de comunicação de Curitiba (PR) e Itapoá. Atualmente, responde pela Direção do site Tribuna de Itapoá e do jornal impresso Itapoá Notícias, nos quais segue também em sua atuação como jornalista. E-mail: thiago@itapoanoticias.com

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