Penso logo (D)existo – Existencialismo e Cultura, por Mutti Kirinus
Anterior a qualquer definição sobre mim mesmo, sobre a sociedade ou sobre os outros, será sempre mais forte a evidência de que existimos. ‘Contra fatos não há argumentos!’ – diz o retórico. O existencialismo diria: sem este fato, o de existirmos, nenhum argumento sequer seria possível. Ou seja, a existência é anterior e mais importante que todo o pensamento pré-estabelecido. Essa constatação faz com que o ser humano possa tomar as rédeas da sua história e exercer sua liberdade. Esquecidos porém desse fato, acreditamos em ideologias, opiniões, desculpas, preconceitos, ‘falsas verdades’ e no lugar de exercer nossa liberdade, permanecemos inertes ou somos apenas arrastados pela corrente.
Já presenciei pessoas com bom potencial desistirem do estudo musical por acreditar que música é só para quem tem dom, ou que música não dá futuro, ou por acreditar que só se aprende de uma maneira, ou só tal gênero musical tem valor, ou por uma aversão a partitura, enfim, inúmeros são os preconceitos. Antes deles, temos de lembrar que com a ‘existência’ temos a liberdade de experimentar, avaliar, reformular os conceitos que nos foram entregues e, somente assim, estaremos exercendo nossa liberdade. Essa liberdade, no entanto, carrega consigo uma responsabilidade.
A moeda da existência é o tempo. Essa mesma moeda é trocada por todos em diferentes lugares. Quando constato e reclamo que a Cultura não está sendo valorizada no local onde resido, preciso também observar se há um investimento do meu tempo em atividades relacionadas a cultura. Se quando as oportunidades culturais aparecem, elas recebem a presença, atenção e o tempo da minha existência. Vale lembrar que quanto maior a qualidade do tempo investido, maior será o retorno desse investimento.
Se uma pessoa, ou toda uma sociedade, investe a maior parte do seu tempo para o acúmulo de capital, busca de status ou poder, consumismo, o puro entretenimento, vaidades, futilidades, ou qualquer atividade que não tenha nada de edificante, a herança deixada por essa, quando muito, será apenas genética. É como se ela de-xistisse culturalmente. É como o servo que enterrou o seu talento e o devolveu ao amo da mesma forma que o recebeu.
Quando essa, porém, investe a moeda da existência em atividades que agreguem conhecimento, aprimoramento da sensibilidade, saúde física e psicológica, ou qualquer tipo de aperfeiçoamento, o talento recebido é aplicado, multiplicado e todos se beneficiam com ele. A herança deixada por essa será, por sua vez, novos artistas e criações, essenciais para o desenvolvimento da humanidade ou, na pior das hipóteses, o gosto da apreciação de tão caro material humano.
A perspectiva do existencialismo nos coloca a liberdade e responsabilidade sobre o futuro da humanidade na sua moeda real (seja na condição de funcionário público, comerciante, autônomo, cidadão, ou empresário). Sob essa perspectiva, todo elogio a cultura se paga à vista (presentemente) e não com conversa fiada; ou como diz uma amiga nossa, a cultura precisa de um empurrão e não de tapinha nas costas; ou ainda, da mesma forma, em nome dela, não se aceita pose, mas sim atitude.
Leia também:
No dia 04 de abril, foi assinado pelo presidente da república e pela ministra da Cultura, o Marco Regulatório do Sistema Nacional de Cultura. Muito embora a criação e implantação de um Sistema Nacional da Cultura seja uma proposta e uma luta de mais ...
Uma das prerrogativas presente em diversos editais de fomento à cultura, seja na esfera federal, estadual ou municipal, é a execução de contrapartidas sociais. Dependendo do edital, essas contrapartidas podem ser remuneradas pelo projeto, mais justo,...
Entre 25 de janeiro e 02 de fevereiro, aconteceu o maior evento musical da América Latina, a 41° Oficina de Música de Curitiba. A ação mostrou, mais uma vez, que o incentivo às artes é promovido através do encontro, diálogo e troca entre os diversos ...