Mecenas e Pilatos, por Mutti Kirinus

Mutti principalTodos sabem que os nomes destes políticos do Império Romano carregam consigo um significado simbólico milenar. A história do primeiro, porém, merece uma atenção maior no que diz respeito ao trabalho relacionado à cultura. Caius Maecenas, foi um grande político, estadista e conselheiro de Cezar Octaviano (Augustus). Essa foi a época considerada pelos historiadores como ‘a época de ouro’ no desenvolvimento da arte, cultura, política e sociedade romana. Tendo uma posição de destaque econômico e político, Mecenas ficou famoso pela sua dedicação à arte e cultura patrocinando diversos artistas, principalmente na área da literatura, como por exemplo, Horácio e Virgílio. Na época do Renascimento, outro período de grande desenvolvimento artístico e cultural da humanidade, seu nome foi relembrado e concedido aos ricos comerciantes que, amantes da arte, patrocinavam pintores, músicos, e artistas, possibilitando a manutenção deste trabalho que, grande parte das vezes, não é um produto rentável como os outros. O seu grande valor reside em um valor simbólico e não puramente material, e como já dizia o divino mestre: ‘nem só de pão vive o homem.’

Nos tempos atuais toda política federal, estadual ou municipal de fomento à cultura tem duas fontes principais. A primeira é o Fundo (Nacional, Estadual ou Municipal) de Cultura, onde a administração pública repassa diretamente o dinheiro, da porcentagem da receita devidamente destinada à cultura, aos programas e projetos culturais. O segundo é o ‘Mecenato’, onde através do incentivo fiscal a iniciativa privada pode patrocinar projetos culturais analisados e aprovados por uma Comissão (Nacional, Estadual ou Municipal) de Cultura.

É claro que todo recurso investido, através destes meios, deve ser fiscalizado, e seu objeto cultural deve ser cumprido; assim, como qualquer desvio e uso do dinheiro público, para outros fins, deve ser punido.

Enfim, o nome Mecenato, tem uma história que chega aos nossos dias e também na nossa cidade. Em 2015 e 2016 temos mecenas agindo no bem comum através do incentivo fiscal. Em breve divulgaremos a lista, que constantemente vem sendo atualizada no sistema Salic net, dos incentivadores pela lei Rouanet em Itapoá.

Temos muitos mecenas que ajudam também sem a lei do incentivo. Por exemplo, em nossa escola de música, Tocando em Frente, temos 3 alunos que são financiados por pessoas que compreendem a necessidade de investimento no estudo da música para os jovens que não tem condição de pagar uma aula particular. Recebemos também recentemente a doação por tempo indeterminado de um piano de armário, e de um violão acústico para uso da escola. A consciência de que cultura não é despesa e sim investimento, seja para si, para os seus, ou, como no caso do mecenato, para outros, é essencial para a transformação da realidade política, social e econômica de uma cidade, estado e país. Mesmo assim, ainda estamos longe de concretizar todo o potencial que possuímos por falta de investimento do setor público e privado da sociedade. Temos muitos projetos já aprovados pela lei Rouanet sem patrocínio. O exemplo mais recente é a continuidade do Coral Vozes da Babitonga que fez um belíssimo trabalho com o patrocínio integral do Porto de Itapoá através do incentivo fiscal. Há ainda outros projetos já aprovados pela lei Rouanet de incentivo fiscal, esperando patrocínio como o projeto ‘Cirandas’ para a formação de um coral infantil; o ‘Saraus nas Escolas’ que já realizou 4 apresentações musicais em duas escolas, (a Claiton e a Monteiro Cabral) e que busca patrocínio para as outras 5 escolas municipais faltantes; a Orquestra Prelúdio que já realizou 2 apresentações em Itapoá, uma em concerto compartilhado com o Coral Vozes da Babitonga e o Sarau trio; A Sua Majestade o Violão, que conta, também dentro das escolas, a história dos compositores brasileiros de violão, junto com a interpretação das suas músicas, estes são reconhecidos mundialmente, mas normalmente não chegam aos ouvidos da maioria dos estudantes e das novas gerações em nosso próprio país.

Essa história que surge há mais de 2000 anos atrás entrega para nós o seu legado. O tempo para transmiti-lo e realizá-lo é o hoje. Da mesma forma que Mecenas eternizou simbolicamente o investimento e patrocínio à cultura, Pilatos eternizou o ato de ‘lavar as mãos’.

Você, como cidadão, político, comerciante ou empresário, deseja ser lembrado pelo quê?

Mutti

Mutti

Helmuth A. Kirinus é mestre em Filosofia pela UFPR, formado em gestão cultural e músico. Atualmente coordena 8 projetos via lei Rouanet de incentivo à cultura e 4 via Sistema Municipal de Desenvolvimento da Cultura de Joinville. É professor de violão e coordenador da Escola de Música Tocando em Frente em Itapoá. Atua também como representante técnico do setor Comunicação e Cultura dos projetos do Ampliar pelo Porto Itapoá.

7 comentários em “Mecenas e Pilatos, por Mutti Kirinus

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    26 de julho de 2016 em 23:38
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    Ótimo trabalho professor Mutti. Quiçá apareçam patrocinadores para o projetos criados e aos em andamentos. Insista, não desista, vamos em frente! Alguém num passado distante disse: “Povo sem cultura entrega seu território ao inimigo”. Parabéns meu amigo!

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    23 de julho de 2016 em 21:29
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    Belos projetos, trabalho inspirador, excelente escrita!

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      26 de julho de 2016 em 17:26
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      Obrigado Liliana, pelos elogios e principalmente pela leitura. Se souberes de algum interessado em tornar-se Mecenas ao invés de Pilatos, compartilhe o artigo, temos alguns projetos em Joinville e Itapoá pela lei Roaunet precisando de incentivo. Qualquer quantia é bem vinda. rsrsrs Abs.

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    21 de julho de 2016 em 11:17
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    Parabéns, artigo muito bom com um final surpreendente. Li com muita atenção até o final e quando esperava pela história de Pilatos para fazer a contra cena dei de cara com um espelho.

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      26 de julho de 2016 em 17:33
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      É verdade sempre podemos fazer algo para ajudar. Mas pelo que conheço da sua história estás mais para Mecenas do que para Pilatos. Aliás, graças a um aporte seu no ano passado, juntamente com outros pudemos realizar o Saraus nas Escolas em duas escolas daqui de Itapoá, foram 4 apresentações artísticas que alegraram e ensinaram muito da história da nossa música para os estudantes. Quando todos se conscientizarem que é melhor deixar a sua parcela de imposto em ações culturais na sua cidade o lucro social que alcançaremos será enorme. Como ouvi em uma homilia é só tirar a venda do egoísmo, ignorância, avareza, e o paraíso já estaria aqui diante de nossos olhos. Obrigado pelo comentário e pela leitura.

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    8 de julho de 2016 em 16:49
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    TEXTO BEM ELABORADO QUE RESGATA A IMPORTÂNCIA DE INICIATIVA PRIVADA PARA O FINANCIAMENTO DE CULTURA, DESDE MAIS DE DOIS MIL ANOS.

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      26 de julho de 2016 em 17:37
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      Obrigado Dante, pela leitura e pelos elogios. Precisamos trabalhar na conscientização das vantagens sociais para o nosso município do repasse da parcela do imposto devido para os projetos que irão beneficiar nossos munícipes, nossas crianças, nossa juventude, idosos… enfim, toda a população. Abs.

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