A Semente e o Semeador, por Mutti Kirinus
A parábola do semeador presente na tradição cristã nos ensina muitas coisas e, assim como tudo aquilo que chamamos “sabedoria”, serve para muitos momentos e situações diversas.
Podemos, assim, tentar extrair o que ela tem para nos ensinar no âmbito do trabalho cultural.
Inevitável, é perceber como um projeto cultural se assemelha a uma semente. Ele tem, em si, em potencial, a possibilidade de germinar e produzir bons frutos, assim como um bom ensinamento tem também, na referida parábola, essa possibilidade.
É claro que precisamos de boas sementes, bons projetos. Nesse sentido, os projetos que passaram por uma avaliação de um órgão competente e especializado, são nesse caso como sementes selecionadas. Esses são selecionados através da análise do currículo do proponente, dos profissionais envolvidos, da consistência e coerência da planilha orçamentária, da justificativa do objeto cultural proposto, da exequibilidade do projeto, etc. No caso dos projetos via lei Rouanet, além de selecionados, estas ganham um tratamento através das constantes melhorias exigidas até conseguirem a aprovação final. Ou seja, não é apenas uma ideia, é um projeto.
Vamos supor que temos essas sementes. E, realmente, temos cinco projetos já aprovados pela lei Rouanet, com autorização para captação de recursos publicada em Diário Oficial da União, e cujo local de realização é Itapoá. Só para lembrar, a lei Rouanet de incentivo fiscal permite que toda empresa que declare o Imposto de Renda como lucro real deduza até 4% do imposto devido e receba de volta integralmente esse valor como desconto na declaração. O mesmo vale para pessoa física, sendo que a porcentagem é de até 6% do imposto devido. Em resumo, ao invés da empresa ou pessoa física mandar esse valor para os cofres da União, eles aplicam na sua cidade e se beneficia do valor que esses projetos carregam consigo nos setores da educação, cultura, cidadania e diminuição da violência e criminalidade. Com isso, pode-se ver com os próprios olhos, de perto, o investimento feito com aquela parcela do imposto pago todos os anos.
Temos as sementes. Mas para uma semente germinar, ela precisa ser acolhida pelo solo, ser plantada através de um sulco na terra. Essa abertura só ocorre com a tomada de consciência da existência desses projetos, através da atenção dispensada a eles, ouvindo sobre o objeto proposto e sobre os mecanismos para sua execução, como no caso, o mecanismo da isenção fiscal. Outra maneira de tomada de consciência é através da leitura de artigos que tratam sobre os temas da cultura, suas possibilidades, dificuldades, necessidades e mecanismos existentes. Sem essa abertura, não há plantio. Em outro artigo, ressaltamos o fato de o individualismo, o imediatismo, a opinião sem conteúdo e reflexão, e outros fatores no mundo atual que dificultam essa abertura e tornam nosso solo cada vez mais árido.
Segundo o Salic Net, em Itapoá, em 2015, tivemos essa abertura em duas empresas de Itapoá: o Porto Itapoá e a Farma Total, além da Prosyst Informática de Joinville e duas pessoas físicas via lei Rounet. Esse plantio gerou a criação e manutenção do Coral Vozes da Babitonga, com oito apresentações, gratuitas e abertas à comunidade itapoaense, duas da Orquestra Prelúdio (23 músicos, transporte e alimentação) e cinco do Sarau Trio, sendo uma para a comunidade e quatro para os alunos das escolas municipais Claiton Almir Hermes e Monteiro Cabral.
Este ano (2016), a única empresa da cidade que continua a transferir o percentual do imposto devido e a investir em cultura via lei Rouanet é o Porto Itapoá. No entanto, tivemos a adesão de sete pessoas físicas de Itapoá, uma de Juiz de Fora (MG), duas de Curitiba (PR), uma de Jaraguá do Sul e uma de Maringá (PR), que fizeram aportes para iniciar a realização do coral infantil de Itapoá “Sementes do Amanhã” com inscrições gratuitas e abertas à comunidade.
Até o momento, foram aportados, nas contas dos projetos, 30% do valor total do projeto para a continuidade do coral adulto, feito pelo Porto Itapoá, e 20% para o início do Coral infantil, feito através das referidas doações de pessoas físicas. Os projetos Clássicos da Música no Presente – Orquestra Prelúdio; Saraus Brasileiros – Música Instrumental Brasileira nas escolas; e A Sua Majestade o Violão – História dos Violonistas Brasileiros Compositores nas escolas, continuam sem movimentação.
Enfim, se lestes esse artigo até aqui e compreendes os benefícios gerados pelos projetos culturais via incentivo fiscal, é possível que a semente tenha caído em solo fértil. Mas, assim como na parábola, há os que recebem a palavra, compreendem seus benefícios, mas não a aplicam, e, consequentemente, a semente não gera frutos. Embora cultura seja o investimento que é, muitas vezes, tido como supérfluo, de segunda ordem, de menor conta, e por isso, é muitas vezes esquecido, lembremos que, assim como o grão de mostarda e as palavras do divino Mestre, a menor semente é aquela que traz os maiores benefícios. Como cidadão, político ou empresário, ajude-nos, frutificando essas sementes e semeando esta ideia.
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Itapoa – a pedra brincalhona de cabeça redonda – encanta as gentes desde seus primeiros habitantes até os atuais visitantes com esta brincadeira de se esconder sob o manto da maré alta e maré baixa.
E por carregar em seu nome o encanto das pedras brincalhonas que inspiram escritores e poetas a exemplo do Rinoceronte com Renite de Gloria Kirinus, certamente é solo fértil para a semeadura cultural. Parabéns ao semeador Mutti que insiste em laçar a boa semente no coração desta gente.
Excelente trabalho Mutti. Você aprendeu muito com tua querida mãe, Glória Kirinus. Parabéns!
Rsrsrsrs. É verdade essa lição vem de casa, metade da arte e metade da cidadania política. Pai e mãe. Espero poder ser digno dos ensinamentos que vêem através do afeto. Agradeço a leitura e os elogios.
PROFESSOR MUTTI, O BOM TEXTO SEMEADO GERARÁ BONS FRUTOS, CERTAMENTE.
PARABÉNS!!!
Obrigado, Dante. As sementes estão lançadas, vamos cultivá-las. Obrigado pelo apoio de sempre e pela leitura. Abs.