A Moeda e o Tempo, por Mutti Kirinus

No final das contas a moeda da existência é o tempo! Mas este também tem uma relação com o sistema econômico criado para nos auxiliar em nossa organização em sociedade.

Desse modo, o valor de um serviço ou um produto, deveria ter uma relação direta com o tempo que ele necessita para sua realização.

Quanto tempo leva um artista para amadurecer técnica e expressivamente e finalmente oferecer um produto ou serviço de qualidade? Qual o valor da arte em nossa sociedade?

O produto feito artesanalmente possui um valor diferenciado do fabricado em série pelo mesmo motivo. Qual o valor que se dá a estas atividades?

Por mais gratificante que seja toda atividade de trabalho é uma venda do seu tempo de vida e é pago através de uma moeda. Cabe então a pergunta: Qual tipo de investimento você faz com o tempo que trocastes em moeda? O que se faz com o saldo de tempo que lhe sobra?

Estas interrogações nos colocam em uma perspectiva existencial onde podemos inclusive relativizar o conceito de riqueza. Rico é aquele que investe o seu saldo de moeda e de tempo em sua realização enquanto ser humano. ‘Mantenha-se humano’ escreveu em letras garrafais um astro do rock em turnê pelo Brasil. Um colega da filosofia usava propositalmente um pleonasmo me dizendo sempre: ‘sabe Helmuth, eu gosto mesmo é das pessoas humanas!’ Então é possível viver desumanizadamente? Sim, se em algum momento perceberes que estás apenas trocando tempo por moeda e distraindo-se ou descansando para novamente trocar tempo por moeda (ou bens materiais) se não existe um sonho ou propósito maior de realização no decorrer da sua semana, pode ser um sinal de não estar cumprindo o seu papel de ser humano.

Exorto os meus alunos mais novos de aproveitar para estudar agora pois enquanto crianças, pré-adolescente, ou adolescentes ainda possuem mais saldo de tempo do que terão na vida adulta. Recebo também adultos recém aposentados que agora querem realizar o sonho que tiveram durante toda uma vida de tocar um violão. Nos dois casos, o tempo desperdiçado, seja por inocência ou ingenuidade, ou a real falta de saldo e oportunidades, pesa sobre a minha vontade de que todos aprendam.

Mantenha-se humano: Contemple a natureza, aprenda tocar um instrumento, dance, participe de um coral, assista concertos, estude uma língua, leia mais literatura, arrisque versos, faça aulas de pintura e desenho, vá ao teatro, cultive o interesse pela história universal, pratique esportes, etc… e incentive estas atividades nos seus filhos e netos. Sinto ser o portador de más notícias, mas nosso crédito é impreterivelmente limitado.

Mutti

Mutti

Helmuth A. Kirinus é mestre em Filosofia pela UFPR, formado em gestão cultural e músico. Atualmente coordena 8 projetos via lei Rouanet de incentivo à cultura e 4 via Sistema Municipal de Desenvolvimento da Cultura de Joinville. É professor de violão e coordenador da Escola de Música Tocando em Frente em Itapoá. Atua também como representante técnico do setor Comunicação e Cultura dos projetos do Ampliar pelo Porto Itapoá.

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