Diversidade e Cultura, por Mutti Kirinus

No trabalho imprescindível de formação de plateia e ampliação do gosto e dos benefícios que esta ampliação carrega, nos deparamos com o paradoxo da igualdade e diferença.

Em uma tendência globalizadora temos uma tendência à hegemonia. Hegemonia é um conceito de igualdade e homogeneização de pensamento, de gosto, de atitudes, de valoração, hábitos, etc. A ‘moda’ talvez seja um exemplo comercial de tentativa de homogeneização do gosto. O preconceito é uma forma negativa de aversão ao que não é homogêneo. Assim como na natureza, na formação do indivíduo, a diversidade é mais saudável que a homogeneização.

Mesmo sendo o ser terrestre mais capaz de adaptações é comum do ser humano criar padrões e segui-los. Mas a comparação entre diversos gêneros, dos diversos períodos e referências históricas, correntes de pensamento e ideologias é a abertura e o vazio do centro da roda que promove o movimento do ‘progresso’.

Em uma análise da evolução do conhecimento científico, Thomas Kuhn, percebeu que grande parte das grandes revoluções científicas aconteceram quando houve uma transferência de padrões entre uma ciência e outra, algumas vezes de maneira até acidental. Ou seja, quando por transitarem em ciências diversas, um físico pensou por algum momento como um biólogo, um matemático como um sociólogo, etc.  Ou seja, mesmo acostumada a padrões, as grandes revoluções aconteceram quando a diversidade e simultaneidade de padrões, e com elas a abertura dos mesmos, geraram novas descobertas.

A diversidade de gêneros musicais, também permite a comparação, a importação de conceitos, de jeitos de fazer música, de ouvir, de tocar, de intenções, etc.  Quando há a mistura entre gêneros a música fica ainda mais rica. Exemplo disso é o gênero miscigenado do choro brasileiro e da bossa nova. O mesmo acontece nos outros segmentos. Podemos ampliar e proporcionar uma abertura nos padrões que nossa mente, por um comprovado motivo de organização e economia de energia, criou e consolidou em nossa mente.

Por esse motivo, o esforço na manutenção das culturas das sociedades pré-industriais ainda existentes, formas de arte que não necessariamente estão na moda ou possuem valor comercial, obras que conquistaram um espaço de evidências no decorrer da história da arte devem ser preservados e fazer parte do conteúdo do trabalho de formação de plateia. Este trabalho de formação de plateia caminha em direção oposta da cultura de massa e simples cultura de entretenimento. Enquanto uma procura perpetuar uma hegemonia de gosto, comercial e de massa, a outra quer ampliar a diversidade e promover uma ampliação do gosto, da mente e do ser humano.

Mutti

Mutti

Helmuth A. Kirinus é mestre em Filosofia pela UFPR, formado em gestão cultural e músico. Atualmente coordena 8 projetos via lei Rouanet de incentivo à cultura e 4 via Sistema Municipal de Desenvolvimento da Cultura de Joinville. É professor de violão e coordenador da Escola de Música Tocando em Frente em Itapoá. Atua também como representante técnico do setor Comunicação e Cultura dos projetos do Ampliar pelo Porto Itapoá.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Deixe seu comentário via Facebook