“Mudança de Hábito – Evento x Continuidade”, por Mutti Kirinus

Está provado cientificamente que, para gerar o início de uma mudança em um hábito, seja físico ou mental, são necessários pelo menos 3 meses de uma nova rotina diária.

Pensando no segmento das artes e da cultura, que precisam inverter o ciclo vicioso de que a falta de cultura gera o desinteresse e desvalorização da mesma, e por sua vez, promove o aumento dessa falta, esse diagnóstico promove nova reflexão.

No mundo do instante, da novidade e do imediatismo, qualquer atividade a longo prazo está fora de moda. ‘O homem moderno’, disse uma vez Novalis, ‘não se ocupa de nada que não possa ser abreviado’. Ou seja, cada vez mais, atividades como a leitura, reflexão, estudo e apreciação da música, da dança, e dos outros segmentos das artes, que por serem complexas, exigem uma longa continuidade no tempo para seu aprendizado prático ou simplesmente estético, terá que romper com uma tendência da modernidade. Nesse sentido, remar contra a maré se tornou o papel do artista e dos produtores culturais, tarefa que ao mesmo tempo é mais difícil, mas que também os fortalecem.

Se o hábito comum da sociedade não favorece a cultura. Quando se faz ou promove algo que pretende romper com o padrão entre escolher entre um objeto cultural pontual ou eventual, e um objeto que promova a continuidade, este segundo, conforme o argumento sugerido no início da coluna, tem mais valor. Da mesma forma, um evento semanal tem mais valor que um mensal, e os mensais, maior valor que os anuais.

No trabalho com o ensino da música, vejo que os alunos que conseguiram romper com o mito do ‘talento nato’ e do imediatismo do resultado, presente na maioria das atividades menos complexas que as artes; e por isso perseveraram no estudo diário e aulas semanais durante mais de um ano, além do desenvolvimento musical, conquistam um acréscimo cultural, histórico e sensível, que inclusive transborda para além de si, chega aos seus pais, amigos e familiares, influenciando o meio onde se encontram.

Já que no cotidiano, e inclusive no currículo escolar, a reflexão, leitura, e apreciação das artes foi retirada ou ocupa um espaço pequeno em nossa rotina, o único meio de mudar o hábito físico e mental da inércia da não apreciação das artes, perdendo os benefícios que estas trazem para o indivíduo e para a sociedade, uma excelente estratégia é o investimento nos eventos de continuidade, seja de formação ou de apreciação.

Mutti

Mutti

Helmuth A. Kirinus é mestre em Filosofia pela UFPR, formado em gestão cultural e músico. Atualmente coordena 8 projetos via lei Rouanet de incentivo à cultura e 4 via Sistema Municipal de Desenvolvimento da Cultura de Joinville. É professor de violão e coordenador da Escola de Música Tocando em Frente em Itapoá. Atua também como representante técnico do setor Comunicação e Cultura dos projetos do Ampliar pelo Porto Itapoá.

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