“Em tempos de Covid-19, precisamos encontrar o equilíbrio”, por Thiago Gusso

Há poucos meses, nem mesmo os mais pessimistas poderiam imaginar um cenário tão complicado para o mundo como esse que estamos vivendo agora. Tudo começou a mudar quase que imperceptivelmente num primeiro momento, quando em 31 de dezembro de 2019, após casos registrados na China, é descoberto um novo agente do coronavírus (família de vírus que causam infecções respiratórias). Esse novo agente provoca a doença chamada Covid-19.

Isolados pela primeira vez em 1937, os primeiros coronavírus humanos só foram descritos com tal nome em 1965, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa. Em função de a família do novo coronavírus já ser conhecida há muitos anos, surgiram alguns dos boatos que foram muito difundidos recentemente. Entre eles, o de que a pandemia foi planejada pela China em função da disputa econômica com os Estados Unidos e o de que o vírus teria voltado a circular para atender a uma demanda dos laboratórios farmacêuticos, detentores da vacina há muitos anos. Cientistas do mundo, porém, reconhecem de que se trata de um novo vírus, com um alto potencial de contágio e letalidade preocupante, pela tendência de colapso do sistema hospitalar e a consequente falta de tratamento adequado na ausência de leitos. A demora em identificar isso e agir para conter o problema tem se mostrado, em números, o maior vilão no combate à doença.

A situação mais drástica em relação ao número de contaminações e mortes por Covid-19 tem ocorrido na Itália. É claro que há vários outros fatores envolvidos (como o clima e as características demográficas), mas as políticas de controle e isolamento têm sido consideradas por especialistas como essenciais. No dia 21 de fevereiro, a Itália confirmou sua primeira morte pelo novo coronavírus. Havia somente 17 casos confirmados naquele país. O Governo local reclamou das notícias, que segundo ele eram exageradas, sobre o rumo que a doença poderia tomar, ao que chamou de uma “infodemia de desinformação”. Ele também relutou em ampliar medidas de isolamento. Duas semanas depois, em 08 de março, a Itália decidiu isolar a região da Lombardia, responsável por parte importante da economia italiana. No dia seguinte (09/03), o isolamento se estendeu para todo o País. Mais de 400 pessoas já tinham morrido por lá, pelo que viria a ser oficialmente reconhecida como uma pandemia (enfermidade epidêmica amplamente disseminada) dois dias depois, em 11 de março. Números atualizados na manhã desta quinta-feira, dia 26 de março, dão conta de mais de 74 mil pessoas contaminadas e 7,5 mil mortes naquele país.

Coreia do Sul, no início da contaminação, apresentou números semelhantes aos da Itália, tendo registrado sua primeira morte no dia 20 de fevereiro. As medidas tomadas foram diferentes e, pelo que se sabe dos números, obtiveram relativo sucesso no controle e enfrentamento do problema. Na manhã desta quinta-feira, dia 26 de março, o país contabilizava pouco mais de 9 mil casos e menos de 130 mortes. A grande diferença de resultado numa comparação entre as formas que Itália e Coreia do Sul enfrentaram o Covid-19 pode ser vista nas chamadas curvas de infecções e de mortes por coronavírus. O primeiro impacto é sentido pelos leitos hospitalares, mais precisamente pela ausência deles em número suficiente. O tratamento adequado diminui drasticamente os riscos de morte e é nisso a aposta de governos de todo o mundo: a redução do número de casos em curto prazo para evitar o colapso dos sistemas hospitalares.

No Brasil, o primeiro caso foi registrado no último dia 26 de fevereiro e a primeira morte pela doença ocorreu dia 16 de março (sendo confirmada no dia seguinte). Rapidamente, o Governo Federal, governos estaduais e municipais anunciaram várias medidas restritivas, tal como vem sendo a política adotada pela maioria dos países no mundo. Talvez seja cedo dizer que esse é o único caminho possível, mas é, de fato, o que países de maior potencial científico têm feito. Talvez, o único caminho conhecido até então. Por ora, em dados atualizados na manhã desta quinta-feira, dia 26 de março, o Brasil contabiliza mais de 2,6 mil casos e 63 mortos pela doença.

E nesse ponto, muitos se perguntam onde vai parar a economia, que está sendo drasticamente afetada pela pandemia. A maioria dos brasileiros não consegue se manter longe da atividade laboral por muito tempo. Muitas empresas também não possuem caixa para se manterem muito tempo fechadas. Por outro lado, a manutenção das atividades econômicas não dá nenhuma garantia de que o setor produtivo não vá sentir os impactos da doença. Pelo contrário, especialistas do mundo todo alertam para o fato de que isso será sentido de uma forma ou de outra. No Brasil, o Banco Central já reduziu a estimativa do PIB (Produto Interno Bruto) do País a zero, depois de ter estimado em 2,2% positivos em dezembro. A preocupação é que um colapso econômico tenha um efeito tão ou mais letal que o coronavírus. Esse outro lado da questão não pode ser ignorado, já que tem suas razões. O momento é único no mundo e ninguém tem a receita de como enfrentá-lo com absoluto sucesso. O equilíbrio entre ações sanitárias e econômicas pode ser a saída. O difícil está sendo encontrar o ponto desse equilíbrio.

Avatar

Thiagão

Jornalista pela PUC/PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) com pós-graduação em Marketing Empresarial pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), Thiago Gusso já trabalhou em importantes projetos de comunicação de Curitiba (PR) e Itapoá. Atualmente, responde pela Direção do site Tribuna de Itapoá e do jornal impresso Itapoá Notícias, nos quais segue também em sua atuação como jornalista. E-mail: thiago@itapoanoticias.com

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Deixe seu comentário via Facebook