De uma ponta a outra do sistema de Saúde, a luta contra o novo coronavírus não pode parar

É sabido que toda a sociedade, de uma forma ou de outra, teve a sua rotina afetada pela pandemia do novo coronavírus. Seja na parte econômica, por questões de saúde ou rotinas de trabalho, todo o mundo – literalmente – tem sentido o reflexo desse problema.

Nesse contexto, dentre todos os segmentos profissionais, aquele que tem vivenciado a doença mais de perto são os da Saúde, cidadãos comuns que, merecidamente, estão sendo reconhecidos como heróis na frente de batalha contra a covid-19.

Ciente disso, o Itapoá Notícias conversou com duas dessas profissionais: uma enfermeira e uma médica, buscando entender melhor esse que é o assunto do momento.

Infraestrutura

Médica anestesista de formação, que atua como plantonista em uma UTI de Blumenau neste período de pandemia, Karine Gusso Ponce nos conta as adaptações de infraestrutura que foram realizadas na região do Vale do Itajaí, mas que se repetem de forma semelhante por todas as regiões de Santa Catarina e demais estados do Brasil. Segundo ela, para preservar leitos, cirurgias eletivas foram suspensas, sendo postergadas para um momento mais oportuno*. “Sendo assim, do ponto de vista anestésico, o movimento caiu bastante. Hospitais da região se prepararam para a pandemia, montando UTI’s [unidades de terapia intensiva] específicas para tratar casos suspeitos e confirmados de covid-19. Maior número de vagas significa maior número de força pessoal, tanto de médicos, como enfermeiros, técnicos, fisioterapeutas, psicólogos, agentes de limpeza e etc”, explica.

Karine ainda conta que do ponto de vista dos pacientes (de covid-19 ou não), as mudanças são mais drásticas. A maioria fica sem acompanhante. Não é permitida a troca durante o dia. No centro obstétrico, não está sendo permitida a entrada de doulas e fotógrafos, nem é permitida a troca de acompanhante. Tudo para haver a menor circulação possível de pessoas. “Na UTI, a visita está suspensa. Passamos o boletim via telefone, sendo difícil explicar algumas situações para os familiares. Na minha percepção, essa é a parte mais difícil. A Psicologia faz vídeo chamadas com os familiares. Estamos nos adaptando na medida do possível e a tecnologia tem ajudado bastante”, conta a médica.

* O Governo do Estado de Santa Catarina chegou a emitir uma portaria no dia 20 de maio, liberando a realização dos procedimentos eletivos, mas até o fechamento desta matéria, ainda não se conhecia, ao certo, como isso seria operacionalizado.

Primeiro atendimento

A outra ponta (a de entrada) está nas unidades de saúde municipais, quais também passaram por diversas atualizações para que pudessem atender a todos com a maior eficiência e segurança sanitária possível neste momento crítico.

Danuska Matos Rodrigues da Silva Boldori, enfermeira da Vigilância Epidemiológica de Itapoá, conta-nos que toda a equipe local foi capacitada através dos seus coordenadores para o enfrentamento da doença. Esses profissionais também vêm se preparando através de ações para minimizar os riscos de adoecimento frente ao coronavírus. São realizadas ações preventivas de educação à população, atualização para profissionais através de documentos enviados pelo Ministério e pela Regional de Saúde, vídeos conferência e investimento em insumos de proteção das equipes. Além disso, eles seguem os parâmetros da OMS (Organização Mundial da Saúde) de conduta adequada para a prevenção das equipes contra a contaminação pela covid-19. O fluxo das UBSs (unidades básicas de saúde) também foi adequado para evitar o contato entre pacientes sintomáticos respiratórios e os que não apresentam sintomas do novo coronavírus.

Caso o paciente apresente sintomas compatíveis com os de infecção pela covid-19, ele entra para a planilha de monitorados, sendo acompanhado a cada 48 horas pela unidade básica de saúde, conforme protocolo do Ministério da Saúde. Coletas são realizadas se o paciente está dentro do prazo hábil para o exame RT-PCR (que detecta o vírus), que é até o sétimo dia do início dos sintomas, sendo que essa coleta é realizada no Município e encaminhada para o Lacen (Laboratório Central) de Florianópolis.

“Caso haja necessidade, o paciente retorna à UBS à qual ele pertence e é reavaliado pela equipe. Se necessário, é encaminhado para Pronto Atendimento 24 horas e, caso haja necessidade de internamento, é encaminhado via SISREG [Sistema de Regulação] para unidade hospitalar”, detalha Danuska.

Achatamento da curva

A médica Karine Gusso Ponce explica a preocupação de se evitar a sobrecarga das unidades hospitalares. “O que temos notado é que grande parte dos pacientes graves necessitam de muitos dias em ventilação mecânica (com auxílio do respirador) e aqueles que conseguem ser extubados, ainda levam um longo tempo de recuperação. Sendo assim, trata-se de um paciente que ocupa um leito por muito tempo. Por isso, insistem tanto no achatamento da curva para não sobrecarregar o sistema de saúde. É diferente atender 1000 pacientes em 3 meses e em 10 dias”, garante Karine.

A enfermeira da Vigilância Epidemiológica de Itapoá destaca as medidas de prevenção. “O importante é a prevenção da população através de medidas de higiene, etiqueta respiratória, uso de máscaras de tecido e evitar aglomerações. População de risco deve evitar ao máximo sair de casa, pois o índice de mortalidade aumenta significativamente em pessoas com doenças pré-existentes e idosos”, conta Danuska Matos Rodrigues da Silva Boldori.

“É uma guerra de todos nós”

Por fim, a médica plantonista Karine Gusso Ponce faz um pedido a todos. “Independentemente da sua crença, independente de culpados e independente de política, a covid-19 é real, já bateu na nossa porta e está levando nossos irmãos, mães, pais, avôs, amigos. Pessoas com nome, com sonhos e com uma vida toda pela frente (independentemente de terem comorbidades ou não). Sabemos que boa parte da população não tem a opção de ficar em casa, mas façamos a nossa parte: se puder ficar em casa, fique! Vamos evitar contato interpessoal, lavar as mãos sempre que possível, usar máscara, evitar disseminação de notícias falsas (fake news), dar suporte às instituições locais, se puder. Será uma batalha longa e árdua. É uma guerra de todos nós e só conseguiremos vencer juntos. Cada pequena ação conta e nós precisamos da ajuda de todos”, conclui.

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Thiagão

Jornalista pela PUC/PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) com pós-graduação em Marketing Empresarial pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), Thiago Gusso já trabalhou em importantes projetos de comunicação de Curitiba (PR) e Itapoá. Atualmente, responde pela Direção do site Tribuna de Itapoá e do jornal impresso Itapoá Notícias, nos quais segue também em sua atuação como jornalista. E-mail: thiago@itapoanoticias.com

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