“Prazer, cidadã!”, por Augusta Gern
O que nos faz ser melhor do que alguém? Ou o que nos faz não querer ser colocado igual ao outro? Perguntas como essas ecoam em minha mente e, certamente, na de muitas outras pessoas, visto o ocorrido que, infelizmente, ganhou as telas nas últimas semanas. Sem dúvida esse é um tema que gera revolta, gera vergonha, gera tristeza, mas também reflexão.
Independente da titulação acadêmica, da questão econômica, onde se mora ou do que se gosta de fazer, hoje, ser cidadão deve ser nossa primeira atividade. Ter consciência social, política e ambiental, ter seus direitos garantidos e exercer seus deveres são requisitos básicos para se viver em coletividade, para se viver em sociedade.
É um tanto contraditório pensar que alguém não quer ser cidadão, ainda mais em tempos de isolamento social. É contraditório pensar que alguém não quer ter seus direitos garantidos no cenário caótico em que o mundo se encontra. E ainda, é no mínimo desumano, alguém não poder exercer seus direitos para garantir a segurança e a saúde das outras pessoas.
Do lado de fora das telas, a gente fica indignado, a gente xinga e culpa as pessoas, geralmente as que estão longe, já expostas à cena. Longe de mim dizer que isso não pode ser feito, mas o que mais podemos fazer? Para além de criticar as ações de quem está longe, qual é o nosso papel como cidadão? De que forma nos comportamos nas ruas, nos comportamos com as outras pessoas?
O uso das máscaras, que tem ganhado tanta repercussão, é apenas a ponta do iceberg de um problema que vai muito além do ocorrido em frente ao bar no Rio de Janeiro. Vai além das máscaras, além do coronavírus, além do difícil ano de 2020.
Qual é o meu comportamento frente à desigualdade entre classes sociais? Acesso às universidades, acesso a tratamentos de saúde, água potável, lazer. De que forma eu vejo, que eu trato e, mais ainda, que eu julgo, uma pessoa que não se veste, não fala e não se comporta como eu? A reflexão vale tanto para quem é visto de forma minimizada e discriminada, como para os que parecem ter super poderes pelos títulos pregados na parede ou um discurso enfeitado. De que forma tratamos as pessoas? A reflexão de hoje, mais do que sobre o ocorrido nas ruas cariocas, é sobre empatia.
Em tempos difíceis como esse, em que um vírus não escolhe a roupa que se veste, o certificado que se está na parede ou o número de curtidas nas fotos, talvez seja o momento (ainda em tempo) de mudarmos o olhar para o outro. Afinal, não somos todos cidadãos?
Augusta Fehrmann Gern
Primeiro cidadã, depois jornalista
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