“Cultura não é Evento, mas sim Construção”, por Mutti Kirinus

Qualquer investimento em cultura, seja do setor público ou privado, que não gere uma mudança na rotina dos seus beneficiários, e não mantenha uma continuidade ano após ano, é uma ilusão, ou seja, não produz o efeito edificante e transformador que se almeja com qualquer ação cultural.

Um evento como o próprio nome diz, é algo pontual e desconexo no tempo, e que não tem nenhuma obrigatoriedade de se repetir ou continuar. Diferente, é um programa mensal com atrações para todo o ano, um curso, uma oficina, um local que mantenha atrações culturais periódicas. Ouso inclusive dizer que até um ‘festival’ de qualquer segmento somente tem seu valor quando amplia a voz das ações que já acontecem periodicamente na cidade, e através desse, pode-se aumentar a visibilidade e promover troca entre os artistas e apreciadores de tal segmento.

Algo que acontece uma vez por ano, embora possa promover entretenimento, não transforma a vida das pessoas, e esse é o verdadeiro objetivo da arte, por mais bela, bem produzida, ou grandiosa que seja a apresentação artística proposta.

É preciso inserir a arte no dia a dia das pessoas, seja através da oportunidade de ensino e aprendizado de um saber fazer artístico, ou de apresentações artísticas com uma contínua regularidade. Isso somente será possível oferecendo meios para que a classe artística execute seus projetos de ensino ou de apresentações artísticas com essa mesma regularidade.

A única vez que tivemos, em Itapoá e em muitas cidades do Brasil, um edital para acolhimento de projetos dos artistas locais, foi através da lei Aldir Blanc, que só surgiu devido à necessidade emergencial provocada pela pandemia que já levou embora mais de 600.000 brasileiros.

Enquanto editais de incentivo à cultura, sem a necessidade de situações emergenciais e também de iniciativas como a lei Aldir Blanc para sanar essas situações, não forem uma prioridade dos grandes e pequenos municípios, infelizmente, não haverá transformações significativas através da cultura. Isso é lamentável, não apenas para Itapoá, como para todo o restante dos municípios brasileiros que não possuem esses editais regularmente.

Mutti

Mutti

Helmuth A. Kirinus é mestre em Filosofia pela UFPR, formado em gestão cultural e músico. Atualmente coordena 8 projetos via lei Rouanet de incentivo à cultura e 4 via Sistema Municipal de Desenvolvimento da Cultura de Joinville. É professor de violão e coordenador da Escola de Música Tocando em Frente em Itapoá. Atua também como representante técnico do setor Comunicação e Cultura dos projetos do Ampliar pelo Porto Itapoá.

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