“Pássaros cantantes”, por Werney Serafini

O canto de um pássaro não é um ato voluntário ou artístico como muitos supõem. Serve para enviar mensagens ou manifestar intenções.

Das cerca de seis mil espécies de pássaros que cantam, cada qual tem seu linguajar próprio. Isso facilita a identificação por observadores experientes, mesmo sem visualizá-los.

Nos pássaros, o som é produzido na siringe, órgão localizado na extremidade inferior da traqueia. Conseguem emitir 45 notas por segundo, com tom de apenas 0,002 segundos de duração. Alguns estendem o canto por mais de sete minutos, isso porque respiram enquanto estão cantando. Tem no código genético instruções que os fazem emitir “chamadas”, os sons básicos característicos da espécie e conhecidos como “gritos” ou “pios”. O canto e suas variantes aprendem com os indivíduos adultos. Um jovem pássaro precisa de 100 dias de “estudos” para dominar o canto da sua espécie e, no processo de aprendizagem, predomina o estimulo da convivência, pois sem ela, não aprenderá o canto em sua plenitude.

Quando em cativeiro, a falta de exemplos e estímulos sonoros, pode trazer deformações no canto, pois afastados do convívio com a sua espécie, acabam por adquirir os meios de expressão de outras aves. Isso, porém, não pode ser confundido com a habilidade que tem alguns pássaros em arremedar a expressão alheia, como o papagaio, que imita até a voz humana.

As manifestações sonoras das aves são elementos de comunicação. Sabe-se que um grito de alarme serve de advertência para outros pássaros também. A vocalização traduz a noção de perigo e a presença do predador é detectada tanto pelos indivíduos da mesma espécie quanto de outras que dividem o mesmo habitat.

Embora exista tendência para a padronização do canto, não é raro que em uma mesma espécie, verifiquem-se “dialetos” praticados por grupos que se distanciaram geograficamente. Em alguns casos, os “dialetos” se afastam tanto do canto original, que um pássaro chega a não reconhecer o canto da sua própria espécie gravado em outra população.

O canto vem a ser uma manifestação típica de domínio territorial. Com ele, as aves advertem sobre os limites dos territórios que ocupam e servem para atrair a fêmea à função de perpetuar a espécie. No período do acasalamento, além dos machos, muitas fêmeas se põem a cantar, formando duetos de rara harmonia e complexidade. O canto parece ser resposta à química hormonal que se opera em seus organismos. Na época da reprodução, verificam-se os cantos da “madrugada” e do “crepúsculo”, diferentes dos padrões vocais emitidos durante o dia.

As aves não limitam o canto apenas ao momento da procriação. Os mais ricos e intensos não estão presos a esse impulso vital e nem se prendem a nenhuma intenção comunicativa.

No Brasil, são inúmeras as espécies canoras. A mais famosa é o Uirapuru-verdadeiro, que habita a floresta amazônica. Em Itapoá, a avifauna é diversa, superando 300 espécies registradas, mas para que o Sabiá-laranjeira, o Curió, o Canário-da-terra, o Pintassilgo, o Coleirinha, o Trinca-ferro, o Tangará e tantos outros continuem a gorjear, é preciso garantir a integridade de seus habitats: a Mata Atlântica litorânea.

Itapoá (Verão), janeiro de 2022.

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Werney

Werney Serafini é presidente da Adea – Associação de Defesa e Educação Ambiental. Acredita no desenvolvimento de Itapoá com a observância de critérios ambientalmente adequados.

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