As bruxas de Itapoá, por Werney Serafini

Reza o ditado que “no creo en brujas, pero que las hay, las hay”; isto é, “não creio em bruxas, mas que existem, elas existem”. Neste artigo, bruxa é uma metáfora relacionada aos fenômenos ditos naturais que assombram Itapoá.

Toda cidade que se preze, tem lá suas bruxas. Umas mais, outras menos, mas todas, sem exceção, as têm. Itapoá não foge à regra, tem as suas que, de tempo em tempo, perturbam a tranquilidade de muita gente.

A mais conhecida é a “bruxa do mar”. Associada ao terrível fantasma “erosão”, invadem a costa, levam a areia da praia e as construções frente ao mar com uma voracidade cada vez maior. Há quem diga, políticos e entendidos, que o fantasma será exorcizado. Pode ser, mas até agora ficou no dito pelo não feito.

Outra é a “bruxa das águas”, vinculada ao rio Saí Mirim. Menos presente, surge quando chove mais do que o previsto.  Inunda casas e ruas, causando o maior transtorno. Dizem que em protesto ao assoreamento e a poluição do rio. Recentemente, indignada com o descaso, deu o ar da graça e, indiferente as lamúrias, alagou parte da cidade, notadamente a construída nas margens do Saí Mirim. Em outras investidas chegou bem mais longe.

Menos impactante é a “bruxa do mendanha” que não é bem uma bruxa, pois na categoria é considerada “zumbi”, ou seja, bruxa-morta-viva. Aparece geralmente no verão, em plena temporada. Ligada ao rio que já foi rio e do qual leva o nome, cheira muito mal e deposita na praia, a mais frequentada de Itapoá, coliformes fecais e sabe-se lá mais o que.

A “bruxa do mar” aparece nas ressacas. A última, na véspera da Páscoa, causou estragos diversos, principalmente nos gabiões de pedras feitos para contenção do mar.

A “bruxa das águas” que andava quieta, voltou impetuosa, inundando ruas e casas a beira rio, a prefeitura chegou a declarar estado de emergência.

A “bruxa do mendanha” fez o encerramento da temporada de verão, anunciando que as nossas águas não são assim tão 100% balneáveis, como dizem na propaganda.

O que chamou atenção foi o fato, inusitado até então, de surgirem quase ao mesmo tempo, mais parecendo ação planejada, coordenada e sucessivamente anunciada. Talvez, para recepcionar o bruxo do inominável que veio assombrar e ameaçar indiscriminadamente a vida de todos. O tal “bruxo corona”, invisível e imprevisível, notícia ruim de todo dia, que na primeira investida paralisou a cidade. Para alguns um bruxo mequetrefe, insignificante e passageiro. Ledo engano! Bastar ver o estrago que já fez por onde andou. Mas, como diz, outro ditado, “em cada cabeça, uma sentença”.

Não dá para omitir outra bruxa, não ligada a fenômenos naturais, mas que gera insegurança jurídica. A “bruxa da sucumbência”, inconveniente nos meios políticos, especialmente em tempos de eleições. Não demora será notícia.

Para não ficar somente com bruxas tradicionais, feias e sem graça, existem outras mais interessantes.  Bruxinhas que são vistas em suas vassouras nas noites de lua cheia.  Graciosas e cheias de encantos inundam os sonhos de muita gente. Ao partirem, deixam suaves e doces recordações. No entanto, cuidado! As de olhos claros são fatais. Quem sabe, um tema para outra história…

Itapoá (outono), maio de 2020.

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Werney

Werney Serafini é presidente da Adea – Associação de Defesa e Educação Ambiental. Acredita no desenvolvimento de Itapoá com a observância de critérios ambientalmente adequados.

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