O que vem da nossa terra

Em tempos de coronavírus, estamos revendo muitas coisas em nossas vidas, não é mesmo? Que tal revermos alguns de nossos hábitos de consumo, principalmente quando falamos em alimentos? Você já pensou em se alimentar do que vem da nossa terra?

Quando falamos em agricultura, Itapoá conta com mais de 40 produtores na área rural, de diversos produtos. Quem nos traz a informação é a Epagri – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina. Conforme Antônio Carlos Pereira, técnico da Epagri em Itapoá, apesar do município não ter vocação agrícola e nem terra tão boa para isso, a produção vem crescendo e se desenvolvendo, sendo que hoje os produtos são comercializados dentro e fora da cidade.

Alface, cenoura, repolho, beterraba, batata doce, tomate, abóbora, banana, morango, aipim, biomassa de banana, farinha, pães, ovos, mel, geleia de morango, polpas de frutas, cheiro verde e temperos são apenas alguns produtos da lista. A maioria deles, além de comercializados na cidade, fazem parte da merenda da rede municipal de ensino. Além disso, o município conta com a produção de arroz, que vai para as cooperativas e indústrias, produção de leite, queijo, gado de corte e madeira.

Para além dos 40 produtores da área rural, Itapoá também é rica em agricultura urbana, pessoas que aproveitam um espaço no quintal para cultivar hortaliças, temperos e plantas medicinais. Esses produtos, em sua maioria, são comercializados entre os vizinhos, ofertados de porta a porta ou em feirinhas artesanais.

Porém, com a crise econômica e social que veio junto ao novo coronavírus, as vendas caíram bastante. Para os pequenos produtores urbanos, por exemplo, o isolamento social impossibilitou a venda pelas ruas e a realização das feiras. Sueli Sampaio Firmino é uma dessas produtoras. Moradora do balneário Cambiju, ela trabalha com temperos, sal de ervas, geleias, conservas, pão de açafrão, amendoim e outros produtos artesanais, frutos do seu quintal. As vendas, até então, eram realizadas principalmente nas feiras e, com isso, segundo ela, diminuíram cerca de 70%. “As pessoas precisam ver e sentir o cheirinho dos produtos, é isso que faz a diferença”, conta.

Dessa forma, um dos seus principais produtos, que é o hibisco, de onde saem licores e geleias, está sendo perdido. “Eu nem estou colhendo mais, porque não tenho mais onde estocar”, afirma. Além disso, por trabalhar com produtos artesanais, a maioria precisa ser comercializada logo após a produção por conta da curta validade.

O desejo da artesã é que as feiras retornem: “feiras com poucas pessoas vendendo, mantendo toda a segurança para a saúde e muito bem divulgadas, para que as pessoas saibam que estão acontecendo”.

Para os produtores rurais, conforme o técnico da Epagri Antônio Carlos Pereira, houve uma diminuição nas vendas de 30 a 50%. Essa redução se dá por muitos pontos de vendas estarem fechados, pela economia das pessoas e, também, pela falta da merenda escolar durante dois meses.

A merenda escolar faz parte do PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar, qual institui que pelo menos 30% dos alimentos ofertados venham da agricultura familiar. Com isso, segundo Antônio, há agricultores no município que dedicam toda a sua produção à merenda. Com a pandemia e a suspensão das aulas, o técnico explica que demorou um pouco para o governo federal liberar a distribuição das cestas básicas e, com isso, os agricultores perderam. Entretanto, a entrega das cestas agora está ocorrendo e, “dos 13 produtos que as compõem, oito são da agricultura familiar”, afirma Antônio.

Carla Antunes de Oliveira e Denilson Frisancio, produtores da localidade Braço do Norte, sentiram um pouco dessa queda nas vendas. Eles produzem cebolinha, salsinha, couve, tomate, maracujá e mandioca, e vendem para restaurantes, mercados e para a merenda. “Tivemos que nos adaptar nos pedidos da merenda escolar, pois alguns produtos congelados não estão entrando no momento”, afirmam. Quanto aos restaurantes, a venda está começando a normalizar agora e, nos mercados, não houve muita diferença.

Nova forma de vender e comprar

Diante das dificuldades impostas pelo cenário, uma alternativa visa adaptar essa comercialização: a venda online. A Prefeitura de Itapoá, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social e Econômico, está trabalhando em um plano com diferentes medidas para a retomada econômica. Fomentar a comercialização online faz parte disso.

Através do site www.topedindo.com.br/itapoa, comerciantes e produtores podem cadastrar seus produtos, divulgar com maior abrangência e manter as vendas mesmo em tempos de isolamento. A iniciativa é uma parceria entre a Prefeitura de Itapoá, ACINI, CDL, Amigos do Comércio e site “topedindo”. “Estamos na fase de cadastro do comércio, empresas e produtores”, explica o secretário da pasta, Sergio Rodrigo Grassi. O cadastro pode ser feito de forma individual e o site conta com um passo a passo bastante explicativo, porém, dúvidas podem ser retiradas na Secretaria.

De acordo com o secretário, para que essa ação tenha sucesso, é preciso a participação de todos: que os comerciantes e produtores cadastrem seus produtos e divulguem a plataforma e que a comunidade valorize o que é produzido e vendido na cidade.

Essa ação faz parte de um plano maior da Secretaria, o de possibilitar que as empresas continuem com as portas abertas e que os produtores continuem produzindo. Nesse plano, estão trabalhando em um mapeamento do atual cenário, campanhas de microcrédito, promoção do turismo para o momento de retomada, incentivos para novas empresas e ações sociais. “Esse é um momento de todo mundo se integrar, precisamos juntar todas as forças para fazer acontecer, é tempo de solidariedade e de pensar no todo”, afirma Sérgio quanto à importância de iniciativas do setor público, privado, de associações e da comunidade em geral caminharem juntas.

E por que comprar do que é daqui?

Você ainda tem dúvidas dos benefícios de comprar do que é produzido em sua cidade? A gente separou cinco motivos para você:

1 – Movimenta a economia local

Ao comprar de quem está perto de você, você aquece a economia da cidade: o dinheiro arrecadado é investido no local e proporciona uma melhor qualidade de vida para quem produz e para quem consome.

2 – Produtos mais frescos

Quanto mais rápido o alimento chegar até você, melhor: maior é a probabilidade de ele não ter perdido nutrientes.

3 – Quanto menor a distância, menos lixo e poluição

Comprando de quem está perto, o produto não precisa de embalagens tão reforçadas e que acabam indo para o lixo em poucos minutos. Também, com menos transporte, acaba se reduzindo as emissões de carbono na atmosfera.

4 – Mantém a tradição

O trabalho rural é uma tradição antiga e extremamente necessária para a nossa vida. Imagine só se tudo fosse industrializado? Ao comprar de quem está perto, você incentiva que a atividade permaneça viva e seja repassada a futuras gerações.

5 – Você está fazendo a sua parte

Ao seguir as dicas anteriores, você está colaborando neste momento de crise e dando um passo junto à sustentabilidade: em que o meio ambiente, a parte social e econômica se desenvolvem juntas, de forma equilibrada.

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Augusta Fehrmann Gern

Augusta Gern. Jornalista pela Instituição Educacional Bom Jesus / Ielusc (2012) e mestre em comunicação pela Universidade Federal do Paraná - UFPR (2017). Tem experiência em assessoria de imprensa, comunicação empresarial e redação e, atualmente, trabalha com produção de conteúdo e assessoria de imprensa.

Um comentário em “O que vem da nossa terra

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    28 de junho de 2020 em 15:08
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    Cidade infelizmente ficou no turismo de volume, ou seja, muitos turistas, com baixo potencial de consumo.
    Talvez seja a hora de rever o público que Itapoá precisa para sobreviver, como destino turístico.

    Lugar lindo, de muito potencial.

    Resposta

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