“Alienação e Participação”, por Mutti Kirinus

Seja no âmbito cultural ou político, não participar é o mesmo que estar alienado. Alienado não posso contribuir e nem cobrar nada de uma realidade da qual não participo.

É de interesse de poucos que muita gente não participe nem da política nem das atividades culturais no país. A não participação política permite que os recursos públicos possam ser utilizados a bel prazer dos governantes favorecendo esses poucos; a não participação em atividades culturais permitem que os eleitos para cargos públicos sejam escolhidos sem apresentar conhecimento, feitos, mérito ou argumentos.

No que se refere à cultura, já ouvi muitas pessoas supervalorizarem no discurso, a cultura e as artes, e até reclamar da falta dela em nossa sociedade, mas nunca participar das poucas atividades que são proporcionadas. Sem essa participação, além de estar perdendo uma excelente oportunidade de crescimento espiritual e humano, corrobora-se para uma dispensabilidade de investimentos no setor que passa a ser considerado supérfluo, quando na realidade é essencial.

É comum também tanto na esfera política ou cultural reclamar da falta de iniciativas sem ter nunca tomado a iniciativa de escrever projetos, buscar editais, patrocínios, participar, atuar ou empreender iniciativas sociais ou culturais.

Transformar novamente, após um distanciamento das artes do nosso cotidiano, em uma prática a apreciação das mesmas, sem transformá-las em mero entretenimento, é um árduo, mas possível trabalho que reúne iniciativas de continuidade, seja no ensino e aprendizagem das artes ou no trabalho de formação de plateia.

Esse trabalho, porém, sem a participação constante daqueles que reconhecem de alguma maneira o seu valor, e dos próprios artistas unidos no propósito impessoal de valorização dos seus mais diversos produtos e segmentos, torna essa realidade mais distante.  Sem constância e continuidade, nada poderá ser verdadeiramente transformado na sociedade.

Esse é o caminho do processo de alienação cultural e política que afasta da população os benefícios que a boa prática de ambas podem trazer para si e para a comunidade.

Mutti

Mutti

Helmuth A. Kirinus é mestre em Filosofia pela UFPR, formado em gestão cultural e músico. Atualmente coordena 8 projetos via lei Rouanet de incentivo à cultura e 4 via Sistema Municipal de Desenvolvimento da Cultura de Joinville. É professor de violão e coordenador da Escola de Música Tocando em Frente em Itapoá. Atua também como representante técnico do setor Comunicação e Cultura dos projetos do Ampliar pelo Porto Itapoá.

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