“Cultura Emergencial”, por Mutti Kirinus

Uma das frases mais repetidas nesta pandemia é que a cultura é um dos setores mais afetados pela mesma. No entanto, não se vê um alento ou um auxílio ao setor fora o edital Aldir Blanc que gerou oportunidades pontuais de trabalho para artistas com repasses até dezembro do ano passado.

O que se vê, ao contrário, na esfera federal, é uma diminuição e atraso na aprovação e liberação de execução, em TODOS os projetos culturais a nível nacional. Isso gerou uma diminuição de investimento e manutenção da cadeia econômica criativa do setor. São professores de música sem salário, sou prova viva disso, produção audiovisuais paradas, músicos, professores de outros segmentos artísticos, estúdios, atores, produtores, gestores culturais, fotógrafos, equipes técnicas de diversos setores, etc, todos sem a sua digna remuneração pelo seu trabalho devido a uma intenção maquiavelicamente planejada de travar a roda da cultura gerada pela lei de incentivo fiscal federal.

O exemplo positivo do edital de Curitiba, que encerrou no último dia 03 de maio o seu prazo de inscrição, o segundo edital com recursos municipais de auxílio ao setor cultural, prova que esse auxílio é possível, além de saudável para a cultura e para economia. No entanto, infelizmente, se levarmos em conta o número de municípios existentes e o número de municípios que tomaram essa iniciativa no Brasil, essas cidades são a exceção e não a regra.

Some-se a esta situação que toda administração pública, em qualquer esfera, teria por obrigação destinar uma pequena parte dos recursos municipais para o setor, preferencialmente de uma forma que este recurso chegue na ponta da cadeia criativa, ou seja, chegue no trabalhador, o operário cultural. Com o auxílio, a cultura poderia inclusive servir de alento, terapia ocupacional, momento de reflexão e autoconhecimento, entretenimento, crescimento espiritual, relação interpessoal, sem interromper o isolamento, entre outros benefícios tão importantes nestes tempos difíceis.

No entanto, infelizmente, a arte e a cultura, assim como um número lamentavelmente enorme de pessoas, também está morrendo de Covid-19 sem auxílio ao setor, seja na esfera federal, estadual ou municipal.

Mutti

Mutti

Helmuth A. Kirinus é mestre em Filosofia pela UFPR, formado em gestão cultural e músico. Atualmente coordena 8 projetos via lei Rouanet de incentivo à cultura e 4 via Sistema Municipal de Desenvolvimento da Cultura de Joinville. É professor de violão e coordenador da Escola de Música Tocando em Frente em Itapoá. Atua também como representante técnico do setor Comunicação e Cultura dos projetos do Ampliar pelo Porto Itapoá.

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