“Arvores imunes ao corte”, por Werney Serafini

O contraste entre a floresta e o mar em Itapoá é fascinante.  Em alguns trechos, a Mata Atlântica parece invadir o mar, numa simbiose de mútuo encantamento.

No cenário, uma árvore se destaca: é a conhecida Figueira do Pontal, ao lado do maior empreendimento econômico da cidade, o Porto de Itapoá.

Centenária, faz parte da história de Itapoá. À sua sombra, sucessivas gerações contemplaram a Babitonga, desde os primeiros pescadores aos atuais moradores, veranistas e turistas que, além da contemplação do mar, observam curiosos a movimentação dos navios. A Figueira é testemunha viva dos acontecimentos no Município, entre eles, a implantação do moderno terminal portuário.

As figueiras são do gênero Ficus, família Moraceae, popularmente conhecidas como gameleira ou caxinguba, palavra de origem tupi-guarani. São mais de mil espécies em regiões de clima tropical e subtropical, como o de Itapoá. O gênero Ficus é um dos maiores do Reino Vegetal.

Fornecem alimento a aves, macacos, morcegos e outros dispersores de sementes, importantes na preservação da vegetação nativa. Os frutos alimentam diversos animais, incluindo peixes e insetos.

Rústicas, crescem de forma vigorosa, a ponto de não ser recomendável plantá-las próximas as construções, pois suas raízes podem comprometer as estruturas das edificações.

Possuem um dos sistemas de reprodução mais curiosos da Natureza. Suas flores ficam encerradas nos frutos, sem contato com o ambiente externo. Por este motivo, o pólen não pode ser transferido de uma planta para a outra espontaneamente. O trabalho é feito por minúsculas vespas que depositam seus ovos nos frutos maduros. As larvas, após a eclosão, transformam-se em novas vespas que, ao saírem dos frutos, ficam impregnadas de pólen. Ao repetirem o ciclo, depositam os ovos em outro fruto com flores femininas, polinizando-as. As sementes, necessárias para a propagação, são formadas a partir das flores polinizadas. O que seria das figueiras sem as pequeninas vespas?

Por existirem em diversos continentes, simbolizam tradições culturais de vários povos, em especial as de cunho religioso. A que produz o figo comestível foi a primeira planta descrita na Bíblia, quando Adão se veste com uma de suas folhas ao perceber que estava nu (Genesis 3.7). O figo é sagrado para os judeus, fazendo parte dos sete alimentos que frutificam na Terra Prometida. É também citada no Alcorão e, para os budistas, é arvore venerada, pois a sua sombra, Buda alcançou a revelação. Maias e Astecas utilizavam a casca das figueiras para produzir o papel dos livros sagrados.

No Brasil, é arvore símbolo de muitas cidades. Na capital catarinense sobressai no mais tradicional logradouro público da cidade, a Praça da Figueira. Em Itapoá, a Lei Municipal 180/2008 transformou-a em patrimônio do Município.

História e Natureza estão intimamente interligadas em Itapoá, exemplo disso a Figueira do Pontal. Fato que justifica ações de proteção e revitalização do local onde está transformando-o em importante cenário de interesse cultural e turístico da cidade.

Mais do que cuidados especiais para com a Figueira do Pontal, valeria no mês do Meio Ambiente, voltar o olhar para as tantas outras árvores também significativas existentes na cidade. Quem sabe, estabelecer políticas públicas no sentido de valorizá-las, criando legislação específica do tipo “Árvores Imunes ao Corte”.

Itapoá (Inverno), junho de 2021.

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Werney

Werney Serafini é presidente da Adea – Associação de Defesa e Educação Ambiental. Acredita no desenvolvimento de Itapoá com a observância de critérios ambientalmente adequados.

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