“Cultura – Segmentos Universais”, por Mutti Kirinus

A arte imita a vida, ou a vida imita a arte? Mas como imitar algo de tão grande complexidade? Na relação entre a vida e a expressão que pretende captar e resplandecer o seu sentido, a arte, surgem uma série de reflexões. A reflexão da coluna deste mês é quanto à necessidade de termos todos os segmentos culturais apoiados igualmente nos municípios. Ela se faz necessária devido à essência universal das artes, e devido a esta universalidade, estes segmentos dialogam entre si e alimentam um ao outro.

Não existirá uma boa apreciação de uma peça de teatro, ou da poesia de uma canção, por exemplo, se não houver, concomitantemente o incentivo à leitura e gosto pelo segmento literário.

Enquanto não houver a apreciação de diversos gêneros musicais para além daqueles comerciais e de entretenimento, também não haverá uma evolução na capacidade de ouvir do público. Esse fato limita o poder comercial dos outros segmentos enquanto engessa o gosto, e a ideologia por trás dele, e também o poder criativo para uma evolução musical que é mais profícua na diversidade e mistura dos gêneros.

Da mesma forma, não se desenvolverá o sentido do olhar enquanto não se oportunizar a apreciação dos produtos das artes visuais. Este desenvolvimento aparecerá na cenografia de apresentações de outros segmentos artísticos ou audiovisuais.

Enfim, para uma evolução humanística plena é necessária a diversidade artística e cultural. Assim, como o tempo é indivisível, como disse o poeta Mário Quintana, o ser humano também é. Embora os segmentos artísticos alcancem os sentidos de uma forma particular, o olhar nas artes plásticas, a audição na música, o ser humano comporta os cinco sentidos, a imaginação, sentimentos e muito mais.

A apreciação das artes como ferramenta de emancipação do ser humano precisa ser também de forma plena. Esta condição somente poderá acontecer com o investimento de recursos de forma equilibrada nos diversos setores culturais. Mas em uma condição em que as artes, no setor do investimento público, sofrem já uma grande defasagem em relação aos outros setores de direcionamento de recursos públicos, embora não sejam menos importantes.

É importante salientar que toda expressão verdadeiramente artística, embora pertença a um segmento, ela tem na sua essência a universalidade. Ou seja, assim como ela dialoga com os outros segmentos, mais do que isso, ela dialoga com todo ser humano. Desse modo, um produto cultural não pode pertencer exclusivamente a uma etnia, religião, ideologia política, etc. Mesmo que ela nasça dentro de um contexto, quando ela é arte, no seu sentido mais profundo, ela transpõe esse contexto e passa a ser universal, e pertence assim a todo o ser humano, pertence a mim, e pertence a você.

Mutti

Mutti

Helmuth A. Kirinus é mestre em Filosofia pela UFPR, formado em gestão cultural e músico. Atualmente coordena 8 projetos via lei Rouanet de incentivo à cultura e 4 via Sistema Municipal de Desenvolvimento da Cultura de Joinville. É professor de violão e coordenador da Escola de Música Tocando em Frente em Itapoá. Atua também como representante técnico do setor Comunicação e Cultura dos projetos do Ampliar pelo Porto Itapoá.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Deixe seu comentário via Facebook