“Sobrou para os jacarés”*, por Werney Serafini

A Fundação Bigarella divulga, nas redes sociais, artigos do renomado geólogo, professor da UFPR e fundador da ADEA – Associação de Defesa e Educação Ambiental, João José Bigarella. “Edilidade, jacarés e ecologia” publicado na Gazeta do Povo (dezembro/1983), referiu-se a denúncias sobre agressões a fauna silvestre em Guaraqueçaba, cidade histórica paranaense localizada na baía de Paranaguá.

O professor, incrédulo com a denúncia, manifestou-se indignado ao saber de um “banquete” organizado por autoridades políticas, contrárias à legislação proposta para a proteção da Serra do Mar e do litoral paranaense. O prato principal da “confraternização” envolveu o sacrifício de “trinta saudáveis e agora saudosos jacarés”, nas palavras do ilustre cientista.

Reuniram-se políticos da situação e da oposição em um protesto contra a legislação de proteção ambiental proposta pela ADEA. Para Bigarella, o repasto revestiu-se de uma simbologia especial, uma espécie de carimbo marcando o tipo de homem público que, oportunisticamente, tende para o lado das vantagens próprias e não para as necessidades coletivas voltadas ao bem comum. Indagava na época: quais os prefeitos que se preocuparam ou se preocupam com o assoreamento da Baía de Paranaguá, inevitável com o desmatamento na Serra do Mar? Quais os prefeitos que se colocaram ao lado da ADEA na luta quase inglória pela preservação da cobertura vegetal da Serra do Mar?

Alheia aos protestos, a floresta sobreviveu, a baia de Paranaguá não foi assoreada e as operações do Porto, vitais para a movimentação do agronegócio no Paraná, continuaram.

A ADEA, próxima ao cinquentenário de fundação, segue fiel ao objetivo do seu idealizador, atuando na conservação da Floresta das Planícies Costeiras de Itapoá, município que apresentou o maior crescimento populacional em Santa Catarina, segundo o censo do IBGE.

As ações de sensibilização proporcionadas por programas de educação ambiental, são prioritárias na Associação, envolvida ativamente na proteção da Mata Atlântica e dos mananciais do rio Saí Mirim, principal curso d’água da bacia hidrográfica de Itapoá.

A RPPN Fazenda Palmital – Reserva Volta Velha, uma das mais antigas Reservas Particulares de Santa Catarina, deu sua contribuição, acolhendo o projeto do Centro de Educação ao Ar Livre (CEAL) e, posteriormente, do Centro de Referência em Estudos  de Florestas  Costeiras; o Porto de Itapoá viabilizou a constituição da RPPN Pe. Von der Aart, além de  manter ativo o projeto Itapoá Sempre Verde, executado pela ADEA há sete anos; a IGG , desenvolvedora  da Riviera Santa Maria, selecionou a ADEA para a criação e elaboração dos Planos de Manejos das duas Unidades de Conservação previstas no projeto, entre outros tantos apoios.

Felizmente, os “jacarés” de Itapoá, espécie vulnerável e ameaçada, não servirão de repastos antiecológicos como o acontecido em Guaraqueçaba e terão seu habitat natural protegido pela APA dos Guaiamuns recentemente decretada pela Prefeitura.

(*) Jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris): espécie presente na lista de animais ameaçados de extinção do Ibama.

Itapoá (Inverno), agosto de 2023.

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Werney

Werney Serafini é presidente da Adea – Associação de Defesa e Educação Ambiental. Acredita no desenvolvimento de Itapoá com a observância de critérios ambientalmente adequados.

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