“No silencio e de forma oculta, agressões e pedidos de socorro podem estar sendo calados”, por Fátima Rigoni

“O feminicídio é a ponta do iceberg. Não podemos achar que a criminalização do feminicídio vai dar conta da complexidade do tema. Temos que trabalhar para evitar que se chegue ao feminicídio, olhar para baixo do iceberg e entender que ali há uma série de violências. E compreender que quando o feminicídio acontece é porque diversas outras medidas falharam. Precisamos ter um olhar muito mais cuidadoso e muito mais atento para o que falhou.”

Carmen Hein de Campos, advogada doutora em Ciências Criminaise consultora da CPMI que investigou a violência contra as mulheres no Brasil.

 

Muitas vezes, a mulher vive em um relacionamento abusivo, tem consciência disso e, no entanto, sente-se culpada pelo que está acontecendo e não consegue se afastar do abuso ou do abusador. Não conta nada aos familiares, porque certamente o marido, companheiro ou namorado já conquistou a família a ponto de ela ser desacreditada. Cala-se diante dos amigos, pois estes podem se afastar para não se envolverem com a situação. Não acredita que possa se transformar em algo pior, acredita em mudança e tem esperança de salvar o relacionamento.

Sabe-se que quando falamos do gênero feminino, podemos limitar nossa fala ao sexo e esquecemos a relação desigual de poder que existe e que acaba em violência verbal, sexual, psicológica e patrimonial. A sociedade impõe padrões culturais desiguais para homens e mulheres. São construções sociais difíceis de serem pensadas ou refletidas. Os papeis estão bem definidos e é comum serem compartilhados pela família, mídia e outras células sociais. Essa desigualdade vem em forma de atitudes machistas, piadas que diminuem a mulher, cenas de filmes que focam a mulher como objeto de prazer, letras de músicas e vídeos que viralizam humilhando o sexo feminino nos relacionamentos, etc. Todo esse processo vem sendo reproduzido de geração em geração a ponto de as pessoas acharem normal tais ações. São papéis definidos pela sociedade, reafirmando e consequentemente produzindo a desigualdade de direitos entre o homem e a mulher, perpetuando essa cultura através da educação de meninos e meninas já nos primeiros anos.

Esse é um tema a ser debatido nas escolas, faculdades e em casa, entre os familiares. O conceito de feminismo tem estreita relação com o feminicídio, pois as pessoas, não conhecendo o conceito, rejeitam ações relacionados a uma luta legítima.

O feminismo é um movimento que luta pela igualdade social e de direitos para as mulheres, e busca combater os abusos e a violência contra elas. Movimento que luta pela igualdade de condições entre homens e mulheres, no sentido de que ambos tenham os mesmos direitos e as mesmas oportunidades. Surgiu após a Revolução Francesa e se fortaleceu na Inglaterra, durante o século XIX, e depois nos Estados Unidos.

O objetivo deste texto é alertar mulheres e homens sobre o assunto, porque talvez bem próximo, no silencio e de forma oculta, uma agressão esteja acontecendo e um pedido de socorro pode estar sendo calado pela cultura da nossa sociedade.

Fátima Gusso Rigoni

Fátima Gusso Rigoni

Mestre em Ciência da Educação; especialista em História e Filosofia da Ciência; especialista em Alfabetização e Letramento; e especialista em Ensino de Artes; Fátima Gusso Rigoni é graduada em Educação Artística; professora com experiência de trinta anos; palestrante; coordenadora e professora de cursos com formação continuada para professores e gestores; autora de livros didáticos e de conto; autora de projetos premiados voltados à Educação; e artista plástica.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Deixe seu comentário via Facebook