
“Praia, atração profunda”, por Werney Serafini

No verão, uma multidão invade as praias. A estrutura dos balneários fica insuficiente para suportar a demanda. Muitos saem frustrados, alguns afirmando que não retornarão. No entanto, todos os anos, mais e mais gente chega às praias do litoral.
Que fascínio exerce a praia para atrair as pessoas? O que as faz vir de longe, permanecer por algumas horas expostas ao sol escaldante, protegidas apenas pela sombra de coloridos guarda-sóis?
Muitos parecem ser os motivos: a reentrância das praias transmite a sensação de segurança; o horizonte, expandido pelo mar, sugere liberdade e aventura; o calor é convite permanente à descontração e ao prazer; o contato com as ondas é estimulante; caminhar na areia é agradável; o mergulho no mar revitaliza o corpo. Sensações intensamente prazerosas.
Yi-Fu Tuan, geógrafo sino-americano, no livro “Topofilia – Um estudo da Percepção, Atitudes e Valores do Meio Ambiente”, diz que as praias foram as primeiras moradas da espécie humana e, por isso, despertam uma profunda atração. A floresta, habitat dos primeiros primatas, proporcionou a evolução dos órgãos da percepção e da locomoção, mas foi a praia e a exposição solar que fez a espécie humana ficar desprovida de pelos, diferenciando-a dos demais macacos. A praia, segundo ele, foi o nicho ecológico que proporcionou o surgimento da cultura humana.
Os sambaquis nas planícies costeiras são evidências de que as praias suportaram densidades populacionais maiores que as terras do interior, onde os humanos dependiam da caça e da coleta de frutos para sobreviver.
Na praia, as pessoas se assemelham, homens e mulheres têm a mesma habilidade e podem realizar as mesmas atividades. Praticam, de igual para igual, atividades náuticas e esportivas, a praia não faz discriminações.
As praias foram populares no século passado. Saúde e prazer, mesmo não sendo produtos diretos do mar, foram as atrações. A crença de que o banho de mar proporcionava saúde foi amplamente aceita por mais de um século. Os balneários tiveram os acessos facilitados e as permanências de um dia, um fim de semana ou uma temporada foram comuns no pós-guerra em função do crescimento da classe média que passou a usar o automóvel como meio rápido de transporte.
A praia é democrática, atende a todos. Requer poucos gastos para ser desfrutada e é inclusiva. A prática esportiva nas areias passou a ser indicador seguro da força do sentimento democrático de um país.
Fatores sociais e econômicos podem justificar o aumento da movimentação em direção às praias, mas não são suficientes para explicar a profunda atração exercida nas pessoas.
O sentimento atávico da origem humana e a avaliação feita atualmente, por indivíduos conscientes da degradação do mar e das consequências para a vida futura, deveriam ser suficientes para que as praias fossem respeitadas, cuidadas e preservadas por todos que sentem e desfrutam dessa profunda e irresistível atração.
Itapoá, março de 2024.
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Werney Serafini é presidente da Adea – Associação de Defesa e Educação Ambiental. Acredita no desenvolvimento de Itapoá com a observância de critérios ambientalmente adequados.
Bernardo Augusto Gunther
Grande Werney!
Belíssimo e oportuno texto!
Tamo junto!
Grato, abraços,
Bernardo Augusto Gunther
http://www.clinicagunther.com.br
1 comentário