“Cultura Frias”, por Mutti Kirinus

Nunca na história deste país, tivemos a frente do mais alto cargo responsável por dar apoio e promover o setor cultural alguém a trabalhar tão eficientemente contra o propósito para o qual este cargo foi criado. Ainda neste Governo, na gestão anterior da pasta, a cargo de Regina Duarte, a classe artística e o setor cultural imploravam por alguma medida em prol do setor em plena pandemia. Mal sabíamos que a gestão que estava por vir era cruelmente pior. Sim, pior que o descaso com a cultura, é tê-la na mira como inimigo a ser destruído.

Desde o início de 2021, os projetos via lei de incentivo federal à Cultura, tanto na sua aprovação inicial para captação de recursos, como na sua homologação para execução, ganharam um novo ritmo. Um ritmo, no qual se freia a tramitação dos projetos e em que uma aprovação inicial ou um parecer técnico, que deveriam levar no máximo 30 dias, podem levar 90, 120, ou até seis meses, dependendo do caso.

Em Itapoá, os projetos Violão para Todos e Orquestra Sua Majestade o Violão, que mesmo a pandemia e o isolamento social não conseguiram parar, pois manteve suas atividades via aula remota por vídeo chamada, neste ano, ainda não pôde ter seus reinícios. São dezenas de alunos que tiveram que interromper seus estudos musicais, e alunos que nem sequer poderão iniciar, sem contar o fato de professores e equipe técnica estarem sem salários. Os projetos já possuem patrocínio suficiente para seu reinício. Ou seja, a sociedade, através das empresas e da comunidade, quer, mas o Governo não permite, atrasando em quase um semestre as tramitações legais. Multiplique esse exemplo para todo o Brasil, e terá uma ideia do retrocesso que o Setor Cultural está enfrentando, justamente no momento em que deveria ser auxiliado, por ser um dos mais diretamente afetado pela pandemia.

O fato de que isso não é saudável para a Cultura do país é óbvio. Não é tão óbvio que ele também não é saudável para a economia nacional. Ele gera mais desemprego, menos capital em circulação, menos consumo, e mais pobreza. Se a motivação contra as medidas restritivas no atual governo era em nome da economia, esse bloqueio a tantos projetos, que além de cultura geram renda, seria apenas mais uma de suas contradições.

Contraditória também são as colocações do atual Secretário da Cultura quando comemora, nas redes sociais, a baixa de patrocínios e investimentos em Cultura via lei de incentivo federal. Quando faz campanha contra a Lei Paulo Gustavo, que destinaria recursos e obrigaria o uso dos mesmos no setor cultural. Quando possui relatos contra ele de que na sua rotina de trabalho, anda armado e ostenta tal objeto, provocando constrangimento entre os funcionários do setor.

Obviamente que o setor, apesar do Governo que o vê como alvo a ser exterminado, segue lutando com as suas armas para promover o alento nestes tempos sombrios, através da arte e da beleza. Qual arma você usa?

No Brasil, os trabalhadores da Cultura estão se mobilizando contra este desmonte das ferramentas em prol da cultura. Acesse youtu.be/Q8ZYQXJ7tig , conheça e apoie essa mobilização.

Mutti

Mutti

Helmuth A. Kirinus é mestre em Filosofia pela UFPR, formado em gestão cultural e músico. Atualmente coordena 8 projetos via lei Rouanet de incentivo à cultura e 4 via Sistema Municipal de Desenvolvimento da Cultura de Joinville. É professor de violão e coordenador da Escola de Música Tocando em Frente em Itapoá. Atua também como representante técnico do setor Comunicação e Cultura dos projetos do Ampliar pelo Porto Itapoá.

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