Fumaça no horizonte, por Werney Serafini
No horizonte, uma coluna de fumaça. Aqui de Itapoá, nem o mais apurado olhar poderia ver. Ficou visível apenas nas imagens da televisão e em horário nobre. Surgiu de repente, em janeiro, último, no litoral paulista, no maior e mais importante porto da América do Sul.
Choveu forte no porto de Santos. Algumas estruturas de contêineres cederam. A água, em contato com produtos à base de cloro, provocou reação química, focos de incêndio surgiram e se alastraram.
Densa nuvem de fumaça tóxica se espalhou indiscriminadamente. Pessoas sofreram irritações na pele e nos olhos. A fumaça, caso inalada, poderia causar problemas respiratórios.
Áreas do complexo portuário foram evacuadas. A nuvem, rapidamente, atingiu Guarujá e a principal avenida ficou coberta por névoa intensa.
Chegou à cidade de Santos e São Vicente e continuou a se espalhar pela baixada santista.
Dois anos antes, outra nuvem de fumaça surgiu na baía da Babitonga, em São Francisco do Sul. Agora próxima, do outro lado da baía.
Tal qual em Santos, causada por incêndio em armazém com produtos químicos. O armazém, próximo à área residencial, não possuía plano de prevenção de incêndios. Não era vistoriado pelas autoridades. Suas atividades já tinham sido suspensas pela Justiça e, a decisão, contestada na época, reconfirmada por perícia do Ministério Público. Uma inacreditável sucessão de omissões. A fumaça dissipou, o susto passou e o assunto foi ‘esfriando’.
Em situação de perigo ou risco iminente, as pessoas tendem a maximizar ou minimizar causas e efeitos. Aumentar ou diminuir os fatos. Assim com as declarações das autoridades: uma sequência de informações vagas, imprecisas e desencontradas que geraram muita insegurança. De cada fonte, oficial ou não, se ouvia uma ou outra explicação, a maioria contraditória. Na dúvida, fez-se o óbvio: quem podia deixou a cidade ou levou para fora os familiares, especialmente as crianças e idosos. Fato acontecido em Itapoá.
Fumaças à parte, o Porto de Itapoá tem licença para movimentar produtos dessa natureza. Não significa que o terminal não possua equipamentos e pessoal capacitado para agir eficientemente em situações emergenciais. Certamente que sim.
No entanto, os terminais portuários têm, no entorno, as áreas retro portuárias, que abrigam depósitos, sistema viário para movimentação de produtos e materiais, além de serviços complementares. O ‘acidente’ em São Francisco do Sul, diferente do de Santos, não foi no porto, mas próximo, em área que deveria ser retro portuária.
Diferente de tantas cidades portuárias, Itapoá destinou expressiva parcela do território para a implantação de uma área retro portuária, destinada as empresas agregadas as atividades do terminal.
Porém, além da delimitação geográfica, não foi feito planejamento definindo critérios para a distribuição e ocupação da área, evitando desencontros semelhantes aos que ocorreram na urbanização de Itapoá, feita de acordo com interesses e necessidades pontuais.
Assim, para um horizonte livre de surpresas, vale reprisar sugestão feita à Comissão de Análise do Plano Diretor, para a elaboração simultânea de plano de intervenção na área retroportuária de Itapoá, planejando, organizando e normatizando a implantação.
O momento é apropriado para a elaboração de um plano de intervenção.
Está confirmada, licenciada e autorizada a ampliação do Porto. De nada adiantará um terminal portuário moderno, ágil e eficiente, limitado por um entorno problemático.
Outono, 2016.
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