Conhecimento e Sentimento, por Mutti Kirinus

Uma informação a respeito de algo ou alguém inevitavelmente muda nosso sentimento de apreço ou repulsa sobre o mesmo. Cabe, é claro, ao cidadão responsável verificar a fonte e a veracidade de tais informações, sob a pena de ser enganado e padecer os danos de tal engodo.

No campo das artes e da cultura acontece o mesmo, as informações que tenho sobre determinado objeto ou segmento cultural influenciam na minha recepção e valoração deste objeto. Nesse sentido, não existe um sentimento puro ou um conhecimento puro, eles estão sempre misturados. Desse modo, um maior conhecimento também amplia o sentir. Chegamos então na célebre frase do consagrado pintor francês “Quero conhecer, para melhor sentir; e sentir, para melhor conhecer.” – Paul Cézanne.

Em uma experiência pessoal, assisti uma apresentação de formação e plateia em uma escola municipal de Itapoá, onde o maestro na metade do concerto para e explica o funcionamento do coral. Mostrando cada voz soando sozinha, e mostrando como cada melodia diferente encontra com as outras e formam acordes e uma harmonia, quando a melodia passa de uma voz para a outra e quando uma voz faz papel de contracanto ou simples acompanhamento, etc. Depois da explicação ficou evidente que aquela plateia já nos olhava diferente, e com certeza ouvia diferente também, prestando atenção na divisão das vozes enquanto ouvia um som só.

Ampliando o tema, impossível dissociar cultura da educação. Ou seja, se nos falta conhecimento sobre a história universal nos faltará interesse e curiosidade sobre música, pintura, literatura, etc, de outras épocas. Se nos falta um conhecimento preliminar do funcionamento da música dificilmente teremos apreço por uma música mais complexa, instrumental ou erudita. Se nos falta conhecimento sobre literatura não selecionaremos as músicas pelo poema de suas canções e sim pelo batidão nos ouvidos, independente da mensagem; também não teremos critérios e referências para distinguir um bom livro e um apenas comercial.

O outro lado da moeda, é o fato de que quando alguém se dedica a um estudo de algum segmento artístico e se aprofunda nele, inevitavelmente além de conquistar as técnicas de sua arte ganha com ela um acréscimo histórico cultural que está intrinsecamente ligado a ela.

A coluna deste mês, como outras, tenta unir os pedaços da nossa humanidade através da arte, esta deveria ser matéria de destaque nas escolas e possuir uma carga horária mais representativa. Assim como deveria ser matéria de destaque em nosso cotidiano e possuir uma carga horária maior também. A coluna e outros trabalhos tentam promover tais oportunidades de vivência e reflexão sobre as artes. Em Frente!

Mutti

Mutti

Helmuth A. Kirinus é mestre em Filosofia pela UFPR, formado em gestão cultural e músico. Atualmente coordena 8 projetos via lei Rouanet de incentivo à cultura e 4 via Sistema Municipal de Desenvolvimento da Cultura de Joinville. É professor de violão e coordenador da Escola de Música Tocando em Frente em Itapoá. Atua também como representante técnico do setor Comunicação e Cultura dos projetos do Ampliar pelo Porto Itapoá.

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