“Interior & Exterior”, por Mutti Kirinus

“Conhece a ti mesmo”. Sobre esta atitude aparentemente simples, pois não existe nada mais próximo para conhecermos, Sócrates ergue a pedra fundamental de toda civilização ocidental. Ora, somente se pode vir a conhecer aquilo que se ignora. Este colocar em dúvida é a porta aberta para o universo que mensalmente procuramos trazer à tona neste espaço: reflexão, arte e cultura.

Neste momento de isolamento social e de uma situação que coloca dúvida sobre o valor de tudo aquilo que cotidianamente fazíamos em nossa rotina, nada cabe melhor do que um ponto de interrogação. Um enorme ponto de interrogação! Um ponto de interrogação tão grande quanto o próprio ‘Só sei que nada sei’, de Sócrates, ou as interrogações da dúvida metódica de Descartes.

A presença e eminência da morte, embora nossa única certeza, em grande escala coloca em dúvida o consumismo, o acúmulo de capital e sua má distribuição, status sociais, participação na educação dos filhos, valores, práticas, escolhas pessoais e sociais, etc…

Se recordarmos que a essência da filosofia segundo Merleau-Ponty era a ‘vontade de estar em toda parte como se estivéssemos em nossa própria casa’. Hoje, quebrando nossas antigas certezas; nos renovando através da reflexão gerado pela dúvida existencial; encontrando seu eco no legado cultural que nos foi deixado até aqui; a cultura, sua absorção e contato com este patrimônio, é a chave para o desejo de ‘estando em sua própria casa estar em toda parte.

Neste momento, de um modo trágico é verdade, maior valor se dará para um bom livro de literatura, uma boa história, um bom filme, uma boa música e ao aprendizado das artes de modo geral. Não apenas porque se terá, para muitas pessoas, mais tempo para isso, mas por que somente as artes tem as respostas, embora não definitiva, que a Esfinge disfarçada de gripe exige dizendo: Decifra-me ou te devorarei. A resposta já sabes: é o homem, a mulher, o ser humano, é você!

Mutti

Mutti

Helmuth A. Kirinus é mestre em Filosofia pela UFPR, formado em gestão cultural e músico. Atualmente coordena 8 projetos via lei Rouanet de incentivo à cultura e 4 via Sistema Municipal de Desenvolvimento da Cultura de Joinville. É professor de violão e coordenador da Escola de Música Tocando em Frente em Itapoá. Atua também como representante técnico do setor Comunicação e Cultura dos projetos do Ampliar pelo Porto Itapoá.

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