“Os corruptos da praia”, por Werney Serafini

O artigo refere-se aos crustáceos da ordem Thalassinidea, os Callichirus mayor conhecidos por “corruptos”. Vivem na areia da praia e servem como iscas para a pesca amadora.

Nas conversas dos pescadores, depois dos peixes, o assunto são iscas. Afinal é delas que depende o sucesso da pescaria. Entre tantas, os corruptos são as melhores.

O tema em voga é a escassez de corruptos. Nas coletas, apenas os pequenos, pois os graúdos estão difíceis de achar. Para alguns, o motivo é a super-exploração o que os coloca em risco, como tantas outras espécies. Para outros, o “encolhimento” da praia restringe o seu habitat.

Na Revista Brasileira de Zoologia (2003), encontrei um estudo elucidativo: “A extração de corrupto, Callichirus major (Say) (Crustacea Thalassinidea) para uso como isca em praias do litoral do Paraná: as populações exploradas”, elaborado por pesquisadores do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Pernambuco e do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná.

Segundo o estudo, a utilização dos corruptos ficou popularizada a partir da invenção de uma bomba de sucção manual, construída artesanalmente com tubos de PVC, que possibilita extraí-los facilmente das galerias feitas na areia.

 Na costa brasileira das 42 espécies existentes, o mais utilizado é o Callichirus major. Outras espécies são usadas em vários lugares do planeta o que comprova a excelência da isca. O Calianassa californiensis e o Upogebia pugettencis nos Estados Unidos e o Upogebia africana na África do Sul, espécies valorizadas por pescadores de diferentes nacionalidades.

O emprego da bomba pode impactar os corruptos e outras espécies também. Na África do Sul, a cada 50 corruptos extraídos, cerca de 50 gramas da macrofauna acaba morrendo ou predada por aves e outros organismos.

A captura excessiva pode causar o desaparecimento da espécie. No litoral de São Paulo, a população do Callichirus major pode ter sido afetada pela intensidade da coleta, conforme constatado pelo estudo.

Pesquisas no litoral paranaense indicaram que as praias apresentam características favoráveis para altas densidades de corruptos em razão do sedimento composto por areias finas, aliadas a baixa inclinação da praia e a zona de arrebentação das ondas bem definida. Em Itapoá, desconheço estudos a respeito, mas as praias têm similaridade com as do Paraná, exceção feita a arrebentação das ondas que com a erosão ficaram mais próximas.

O corrupto, apesar de não gerar renda direta através da venda ou produção, tem significativo valor econômico, pois é importante para a pesca esportiva no litoral, atividade que atrai muitos turistas.

Há que se considerar que o habitat dos corruptos é a faixa de areia da praia e em Itapoá, apesar da inexistência de pesquisas, não deixa de ser preocupante o efeito da erosão que diminui a faixa de areia, restringindo o território do crustáceo.

Quem sabe, não será a causa do sumiço dos corruptos nas praias de Itapoá?

Itapoá (Outono), maio de 2022.

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Werney

Werney Serafini é presidente da Adea – Associação de Defesa e Educação Ambiental. Acredita no desenvolvimento de Itapoá com a observância de critérios ambientalmente adequados.

Um comentário em ““Os corruptos da praia”, por Werney Serafini

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    18 de junho de 2022 em 22:21
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    Parabéns Werney, belo trabalho.

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