“Maria? Que Maria?” por Werney Serafini

Há poucos dias, abriu na cidade, um espaço especial: o Mercado da Maria, destinado a ser um ponto de encontro na cidade.

Para quem não sabe, a Maria do mercado sou eu, um pequeno passarinho, entre os tantos existentes em Itapoá. Meu nome é Hemitriccus kaempferi, da família Tyrannidae, assim mesmo, escrito em latim, língua extinta usada para denominar os seres vivos do planeta.

Popularmente, sou conhecida como Maria Catarinense ou Maria Catarina. Sou endêmica das florestas de Mata Atlântica do litoral norte de Santa Catarina. Endêmicas, são espécies exclusivas em determinadas regiões, encontradas somente nesses locais.

Discreta, não chamo atenção. Minhas penas esverdeadas confundem-se com o verde da floresta e me deixam pouco visível, difícil de ser vista. Alguns chegam a dizer que me escondo das pessoas. Pode parecer estranho, mas esse é o meu grande atrativo.

Nasci no litoral norte da Santa e Bela Catarina e tenho predileção pelas florestas de Itapoá. Dependo delas para viver e perpetuar minha espécie. Vivo na borda da mata, caçando pequenos insetos; sem eles e sem arvores, não poderia sobreviver.

Infelizmente, faço parte de uma lista sinistra. A lista das aves ameaçadas de extinção. Aliás, o Brasil é o país que mais espécies tem nessa lista, perguntem ao Bicudinho-do-brejo, a Maria-da-restinga, ao Patinho-gigante e a Saíra-sapucaia, que também vivem aqui.

Percebo que, em Itapoá, ainda sou pouco conhecida, daí a razão de me apresentar. No entanto, em outros lugares, no estrangeiro por exemplo, sou popular e considerada até uma celebridade. Observadores de aves, os conhecidos birdwatching’s, vêm de países distantes para ver a exuberante avifauna local. Não é à toa que Itapoá é considerada parte da Reserva Mundial da Biosfera pelo Programa Homem e Biosfera da UNESCO e referência internacional para observação de aves.

Às vezes, fico pensando e não consigo entender: os humanos são estranhos, destroem as florestas onde vivo e, depois, colocam meu nome numa lista dizendo que estou em perigo, ameaçada de extinção. Criam leis para a minha proteção, geralmente não cumpridas e, quando quase desapareço, vêm de longe me ver.  Acho muito estranho!

O pessoal da ADEA propôs à Câmara de Vereadores que a Maria Catarinense fosse eleita Ave Símbolo de Itapoá. A solicitação, aprovada por unanimidade pelos vereadores e sancionada pelo prefeito, transformou-se em Lei Municipal. Atualmente, além de ave símbolo da cidade, tenho orgulho em dizer que também me tornei símbolo da preservação e conservação da Natureza em Itapoá.

Quem bom seria se existissem mais Unidades de Conservação em Itapoá e que mais pessoas viessem conhecer e desfrutar deste rico patrimônio natural de que fazemos parte.

Tenho muita esperança de que isso aconteça. Afinal, vocês humanos estão sempre dizendo que a esperança é a última a morrer.

Recomendo: vá e leve seus amigos para conhecer o Mercado da Maria. Vale à pena!

Ao presidente da ADEA, agradeço o espaço na sua coluna do Itapoá Notícias. Obrigado!

Itapoá (Primavera), dezembro de 2022.

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Werney

Werney Serafini é presidente da Adea – Associação de Defesa e Educação Ambiental. Acredita no desenvolvimento de Itapoá com a observância de critérios ambientalmente adequados.

Um comentário em ““Maria? Que Maria?” por Werney Serafini

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    25 de dezembro de 2022 em 11:23
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    Parabéns Werney Serafini por nos esclarecer qual Maria é essa! Pequenina e símbolo! Símbolo da nossa querida Cidade de Itapoá e símbolo da Preservação e Conservação da Natureza em Itapoá!
    Lembrando aqui o brocardo Alemão que nos alerta: ” Wer das Kleine nich vert ist das Grosse nich vert”. Numa traduçao livre algo como: “Quem não honra o pequeno não merece o grande!”.
    Agradecemos extensivamente à ADEA pelo grandioso trabalho na Defesa e Educação Ambiental!
    Desejamos Feliz Natal e Próspero Ano Novo igualmente aos amigos, familiares e colaboradores.
    Grato, Abraços, Bernardo Augusto Gunthe, http://www.clinicagunther.com.br; http://www.rivierasantamaria.com.br

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