“Floresta e cultura”, por Werney Serafini

Destruir as florestas brasileiras é o mesmo que  destruir a própria cultura brasileira. Suprimir a Mata Atlantica Litorânea é o mesmo que destruir a cultura em Itapoá. Alguém, em sã consciência concebe o “Paraiso” sem a floresta?

O professor Zé Pedro de Oliveira Costa, autor do livro “Uma história das Florestas Brasileiras”, entende que destruir a vegetação nativa brasileira seria comparável a destruir as pirâmides do Egito, as muralhas da China, a igreja de Santa Sofia, em Istambul, ou a torre de Belém, em Lisboa. A crença de que a floresta significa terra inculta, atrasada e sem perspectiva, perdurou por muito tempo. Felizmente essa concepção inconsequente, para não dizer retrógada,  está em franca extinção.

Diz o professor que não se transforma o Pão de Açucar em paralelepípedos, porque o Rio de Janeiro sem o Pão de Açúcar, não seria o Rio de Janeiro, mas sim outra cidade. Da mesma forma, a eliminação total da vegetação nativa brasileira modificaria irremediavelmente o Brasil, tornando-o outro país, com outra identidade, provavelmente a do vilão mundial do meio ambiente.

O primeiro Código Florestal proibia que fosse devastada a vegetação das frágeis encostas, que além de protegê-las,  servem de moldura aos sítios e paisagens pitorescas dos centros urbanos e arredores. Nos anos 1970, Luis Saia, um dos conceituadores do Patrimônio Histórico Brasileiro, apregoava não ser mais possível adiar a necessidade de agir para preservar oficialmente as paisagens brasileiras. O professor José Bigarella, fundador da ADEA, uma das  primeiras entidades ambientalistas da Região Sul, liderava  ampla campanha para a preservação do pinheiro Araucária, árvore pela qual ficou conhecido o estado do Paraná. Locais que não possuam laços significativos com sua paisagem original, são os que deveriam ser considerados deteriorados e culturalmente despojados.

Para muitos, a natureza corresponde a um ideal de pureza e leva as pessoas a considerá-la o paraíso terrestre, tal como é qualificado Itapoá. Portanto, conservar  a vegetação natural dos sítios de beleza excepcional e a biodiversidade local  é preservar identidade e cultura. Esse é o verdadeiro significado de civilização.

Itapoá (Primavera), dezembro de 2023.

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Werney

Werney Serafini é presidente da Adea – Associação de Defesa e Educação Ambiental. Acredita no desenvolvimento de Itapoá com a observância de critérios ambientalmente adequados.

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