“Tsunamis e afins”, por Werney Serafini

Na varanda da antiga casa, costumava observar no mar, o horizonte a perder de vista. Queria que o meu fosse assim, infinito.

Numa tarde contemplativa, asas à imaginação, vislumbrei um enorme tsunami, igual àquele da Tailândia ocorrido anos atrás. Uma onda gigante, avançando sobre a praia, inundando e levando tudo pela frente. Assustador!

Passado o desconforto, racionalizei no sentido de que nem tudo estaria perdido. Alternativamente, poderia buscar proteção na Chácara Remanso, que além de perto, está em terreno alto. Chegaria a tempo e a salvo. Teria novamente os pés na areia. Depois, os tsunamis são passageiros, como tudo na vida. Faria uma nova casa, outra varanda, enfim, tudo como dantes. A sensação foi de alívio, igual a que se tem ao despertar de um pesadelo.

Hoje na nova casa, e mantido o hábito das costumeiras reflexões, surpreendeu-me a notícia de outros tsunamis não geológicos, mas meteorológicos. O mar, de repente e sem motivo aparente, avança na orla, assustando as pessoas, nas praias do sul da nossa Santa e Bela Catarina. E não foi pouca coisa, segundo o testemunho de quem viu.

A ocorrência de tsunamis geológicos, meteorológicos e outros eventos diversos, levou-me a uma antiga leitura do mar, que dia a dia, mês a mês, e ano a ano vem erodindo e encolhendo a nossa praia. Parece nos empurrar continente adentro, exigindo de volta o seu espaço.

As pessoas não percebem ou não querem fazê-lo, que a costa é instável e muda com frequência, sobre o efeito das marés, dos ventos e da energia das ondas. O mar leva a areia e a devolve, um leva e traz sucessivo. É a chamada dinâmica costeira, mas para esse movimento, requer espaço.

Antes, a costa era pouco ocupada. A praia ampla e as dunas frontais, cobertas por vegetação. Os rios desaguavam no mar a sabor da própria vontade e não existiam grandes intervenções humanas. Testemunhas disso são os antigos pescadores e os carijós que, encantados, contemplavam a pedra ressurgindo no capricho das marés.

Forasteiros chegaram e, na bagagem, trouxeram o progresso. A cidade cresceu e, desordenadamente, a orla foi ocupada. A ordem era crescer e crescer, sem prever as possíveis consequências.

Como não há causa sem efeito e vice-versa, o mar deu o troco, e nas seguidas ressacas, invadiu a costa. Derrubou casas, ruas e equipamentos urbanos. Os gabiões para proteção das ondas, não foram suficientes e, na praia, restou um amontoado de pedras. O mar, alheio, persiste levando areia que não mais devolve.

A cada evento, as discussões retornam: é ou não é restinga, linha de preamar, direitos de propriedade, áreas de marinha, canal do porto, resolução Conama, engorda da praia, alterações climáticas e outras tantas. Assunto para todos os ouvidos. O mar? Impassível, erodindo a areia, levando a praia. Até quando? Não se sabe.

E eu aqui, num tranquilo final de tarde, imaginando tsunamis!

Itapoá (Verão), fevereiro de 2024.

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Werney

Werney Serafini é presidente da Adea – Associação de Defesa e Educação Ambiental. Acredita no desenvolvimento de Itapoá com a observância de critérios ambientalmente adequados.

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