“O que fazer com o Mendanha?”, por Werney Serafini

Rios nas cidades são problemas, atrapalham a urbanização. A solução usual é aterrá-los, desviá-los, drená-los ou revesti-los em galerias e tubulações de concreto, ou seja, empurrar o problema para “debaixo do tapete”, no caso, “debaixo da terra”.

Mas, a prática está mudando. O olhar voltado para a recuperação dos rios, das nascentes e dos riachos, antes escondidos para dar espaço a ruas, avenidas e empreendimentos imobiliários. A proposta é “renaturalizá-los”, isto é, trazê-los de volta ao estado natural. A discussão é como fazer e viabilizar os recursos necessários.

Experiências em diversos países apontam a “renaturalização” possível e necessária. Especialistas afirmam que, além de possível e necessária, é urgente. As cidades, notadamente as brasileiras, precisam aprender a tratar melhor as suas águas.

O cuidado é imperativo, pois as variações climáticas assumem proporções gigantescas e se não forem enfrentadas surgirão problemas, sérios problemas. Portanto, é inadiável recuperar a qualidade das águas nas cidades.

Ninguém discorda que a prioridade deve ser a coleta e o tratamento do esgoto, no entanto, simultaneamente, é preciso cuidar das nascentes, abrir os rios onde for possível, conservar o que está aberto, criar parques lineares e proteger a vegetação das margens.

No Brasil, algumas iniciativas merecem destaque:

São Carlos, no noroeste de São Paulo, renaturalizou um trecho de 300 metros próximo a nascente do córrego Tijuco Preto e descartou um projeto para extensão de uma avenida sobre a área. Com orientação do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Escola de Engenharia de São Carlos, utilizou-se técnica de estruturação das margens dispensando paredes de concreto. O sistema estabiliza o solo com materiais que se degradam a medida em que a vegetação cresce e passa a ser fixadora do terreno, entre os materiais empregados o eucalipto não tratado.

Em São Paulo, no Jardim Botânico, o canal que escondia o córrego Pirarungaua, sob a alameda Fernando Costa, apresentava problemas estruturais, pois as paredes do canal, construído em 1940, haviam desmoronado. O Instituto de Botânica decidiu reabrir e regenerar o córrego, afluente do Ipiranga, em cujas margens foi proclamada a independência do Brasil. A reabertura consistiu na substituição do pavimento da alameda, por um deque elevado feito com madeira reflorestada e tratada, numa extensão de 250 metros. Nas margens foram plantadas espécies da Mata Atlântica. Hoje quem visita o Jardim Botânico, além de visualizar o córrego, tem acesso à nascente.

A renaturalização dos cursos d’agua ocorre nas cidades urbanizadas há longa data, quando os rios eram simplesmente desviados, canalizados e escondidos, alternativa que demonstrou ser inadequada, com consequências desastrosas em termos ambientais e causa principal de enchentes, inundações e poluição.

Não poderá ser uma alternativa para o degradado e poluído rio Mendanha em Itapoá? Desafio aos gestores municipais no sentido de transformar Itapoá em exemplo de cidade sustentável?

Como ponto de partida, a elaboração de diagnóstico técnico multidisciplinar sobre a real situação do Mendanha, com vista a sua regularização ambiental e a possibilidade de um moderno Parque Linear interligando a principal avenida da cidade à praia de Itapema do Norte, principal ponto turístico de Itapoá.

Itapoá (Primavera), dezembro de 2020.

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Werney

Werney Serafini é presidente da Adea – Associação de Defesa e Educação Ambiental. Acredita no desenvolvimento de Itapoá com a observância de critérios ambientalmente adequados.

Um comentário em ““O que fazer com o Mendanha?”, por Werney Serafini

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    12 de dezembro de 2020 em 18:41
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    Não dá para aceitar nos dias de hoje, algo diferente.Principalmente na foz, onde a restinga da margem do rio, nós resguarda a areia da praia e nos meses de ressaca o rio espraia a Marea alta que ela avança na rua
    O rio é o nosso melhor vizinho.

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